segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Gosto quando me falas de ti...

Gosto quando me falas de ti...
e vou te percorrendo
e vou descortinando a tua vida
na paisagem sem nuvens,
cenário de meus desejos tranqüilos.

Gosto quando me falas de ti...
e então percebo
que antes mesmo de chegar, me adivinhavas,
que ninguém te tocou, senão o vento
que não deixa vestígios, e se vai
desfeito em carícias vãs...

Gosto quando me falas de ti...
quando aos poucos a luz
vasculha todos os cantos de sombra,
e eu só te encontro
e te reencontro em teus lábios, apenas pintados,
maduros,
mas nunca mordidos antes da minha audácia.

Gosto quando me falas de ti...
e muito mais adiantas
em teus olhos descampados, sem emboscadas,
e acenas a tua alma, sem dobras,
como um lençol distendido,
e descortino o teu destino, como um caminho certo,
cuja primeira curva
foi o nosso encontro.

Gosto quando me falas de ti...
porque percebo que te desnudas
como uma criança, sem maldade,
e que eu cheguei justamente para acordar tua vida
que se desenrola inútil como um novelo
que nos cai no chão...



( Poema de JG de Araujo Jorge do
livro "Quatro Damas" 1a ed. 1965 )



JOSÉ GUILHERME DE ARAUJO JORGE

Nasceu em 20 de maio de 1914, na Vila de Tarauacá, Estado do Acre. Filho de Salvador Augusto de Araújo Jorge e Zilda Tinoco de Araujo Jorge. Descendente, pelo lado paterno de tradicional família alagoana, os Araujo Jorge. Sobrinho do embaixador Artur Guimarães de Araujo Jorge, ( autor de inúmeras obras sobre Filosofia, História e Diplomacia), sobrinho neto de Adriano de Araujo Jorge , médico, escritor, grande orador, que foi Presidente perpétuo da Academia Amazonense de Letras, e do Prof. Afrânio de Araujo Jorge, fundador do Ginásio Alagoano, de Maceió. Descende pelo lado materno dos Tinocos, dos Caldas e dos Gonçalves, de Campos, Macaé, e S. Fidélis, Estado do Rio. Passou sua infância no Acre, em Rio Branco, onde fez o curso primário no Grupo Escolar, 7 de Setembro. No Rio , realizou o curso secundário nos Colégios Anglo-Americano e Pedro II Colaborou desde menino na imprensa estudantis. Foi fundador e presidente da Academia de Letras do Internato Pedro II, no velho casarão de S.Cristovão, consumido pelas chamas muitos anos depois. Data dessa época, ainda ginasiano, sua primeira colaboração na imprensa adulta: em 1931 viu publicado o seu poema "Ri Palhaço, Ri" no "Correio da Manhã", depois transcrito no "Almanaque Bertand" de 1932.Entretanto, este como outros trabalhos desse tempo, não foram incluídos em seus livros. Colaborou também no jornal " A Nação" ; nas revistas: " Carioca", "Vamos Ler", etc. Formou-se pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil.Em 1932, No Externato Colégio Pedro II, em memorável certame, foi escolhido o " Príncipe dos Poetas", sendo saudado na festa por Coelho Neto, "Príncipe dos prosadores brasileiros" recebendo das mãos da poetisa Ana Amélia, Presidente da Casa do Estudante, como prêmio e homenagem, um livro ofertado por Adalberto Oliveira, então " Príncipe da Poesia Brasileira".Na Faculdade de Direito foi o fundador e o 1º Presidente da Academia de Letras, que teve como patrono Afrânio Peixoto, então professor de Medicina Legal.Foi locutor e redator de programas radiofônicos, atuando nas Rádios Nacional, Cruzeiro do Sul, Tupi e Eldorado. Em 1965, era professor de História e Literatura, do Colégio Pedro II.Orador oficial de entidades universitárias, (do CACO da União Democrática Estudantil, precursora da UNE, da Associação Universitária, etc), ainda estudante, venceu concursos de oratória. Em Coimbra recebeu no título de " estudante honorário" e fez Curso de Extensão Cultural na Universidade de Berlim. Com irrefreável vocação política, foi candidato a vários cargos públicos. Elegeu-se Deputado Federal em 1970 pela Guanabara, reelegendo-se já para o seu terceiro mandato em 1978 . Ocupou a vice-liderança do MDB e a presidência da Comissão de Comunicação na Câmara dos Deputados. Politicamente participou sempre das lutas anti-fascistas, como democrata e socialista. Lutou, ainda estudante, contra o "Estado Novo". Foi preso e perseguido várias vezes durante esse período. Deixou de ser orador de sua turma por estar detido na Vila Militar, sob as ordens do Gal. Newton Cavalcanti, durante todo "estado de guerra" de 1937. Foi conhecido como o Poeta do Povo e da Mocidade, pela sua mensagem social e política e por sua obra lírica, impregnada de romantismo moderno, mas às vezes, dramático. Foi um dos poetas mais lidos, e talvez por isto mesmo, o mais combatido do Brasil. Faleceu em 27 de Janeiro de 1987.

8 comentários:

Pena disse...

Oh, Simpática Amiga:
Fez uma escolha fabulosa. Perfeita.
Tem um valor imenso.
Adorei!
Beijinhos de imenso respeito e amizade pela sua gigantesca significação poética perfeita.
Deslumbrado pelo seu encanto.

pena

Bem-Haja, extraordinária amiga!

Uma aprendiz disse...

Bom dia, Pena

obrigada pelo carinho.


beijo e uma ótima semana pra ti

Paula Barros disse...

Um poema bom de ler, do tipo que foi escrito o que pensa, o que sente.

É bom conhecer alguém, principalmente se esse alguém nos desperta sentimentos mais profundos.

abraços

Paula Barros disse...

Você tem notícias de Sibarita?

Uma aprendiz disse...

Con certeza, Paula

isso nos dá um novo animo para a vida.

Adoro esse poeta e essa poesia em especial.

beijos

Uma aprendiz disse...

Não!

Ele sumiu, né? Já perguntou para a Deusa????

Vou lá no blog dele deixar recado.


beijos

O Sibarita disse...

O JG de Araújo é ouro em pó dona moça!

Um dos maiores poetas do Brasil e obrigado por postar a vida dele.

Veleu!

bjs
O Sibarita

Uma aprendiz disse...

Eu também gosto muito dos textos dele.

Temos bom gosto kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk


Eu que agradeço pela visita.


beijos