terça-feira, 23 de setembro de 2008

Paixão

Enfim,

me rendo aos seus encantos.

Vencida.

Entregue.

Apaixonada.




texto: etelvina de oliveira

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Matem as Rosas

Lançadas ao solo sementes esperam um toque vivificante.
Caem sobre elas, então, as pequenas gotas de água. Passam-se dias, muitos entre um regar e outro. Surge desse meio tão singelo um botão de rosa. Uma rosa que não é rosa, mas vermelha. Flor tão significativa, tão magna na sua representação amorosa que, em vez de ser chamada de rosa, deveria ser definitivamente nomeada: amor.

E que os seres que sentem tal sentimento tão contraditório e incerto possam enviar para aqueles estimam buquês de amor. E, de preferência, buquês de amores vermelhos. Não que os amores brancos, dourados ou róseos sejam menos intensos. Mas os amores vermelhos refletem mais vivamente a cor consagrada da paixão. Os grandes símbolos da doação, do despojar, da entrega e do amor possuem tal cor como estandarte. Dizem que o amor vem do coração. Nenhuma criança pintaria esse órgão de outra cor, a não ser de vermelho. Dizem que o homem que mais amou a humanidade, entregando-se em cruz, usava um manto vermelho. Dizem que o sangue nos mantém vivos, e que, para amar, precisamos viver. Bom é saber que o sangue é vermelho. Mas para amar, nem sempre é preciso estar vivo... muitos amam mesmo depois de mortos... na verdade, alguns nem sabem que já estão mortos... outros já sabem, mas teimam em continuar vivos...

Apanhado, então, daquele solo o frágil botão de rosa, ou melhor, o delicado botão de amor. Com bastante cuidado para não se ferir no espinho, deve ser envolvido com um lenço branco umedecido de perfume. De todos os botões de rosas já vistos, esse seria o mais encantador e o maior reflexo da verdade amadorista.

Amador. Na verdade, essa palavra não é o contrário de profissional. Amador é aquele que ama. E se ser amador não é ser profissional, que eu seja um perpétuo amador, inexperiente, pois prefiro amar a ser um doutor das palavras ou de quaisquer outras lavras.

Especial vida vegetal, pois emergiu ali, solitária, em um canteiro espremido no fundo do quintal. E mais especial ainda porque foi arrancada da terra para repousar em seus braços. Acolha, portanto, essa serena rosa vermelha amorosa embebida de perfume em suas mãos delicadas. Não se preocupe com os espinhos, pois estão bem protegidos abaixo do pano branco. Eu lhe daria algo que por ventura lhe machucasse? Se lhe desse um cacto, colocaria em cada uma das pontas dos finos espinhos um pequeno algodão para amaciar sua pele. Não é necessário arrancar os espinhos das rosas, basta saber como tocá-las.

E que você possa sorrir ao ver essa rosa e que seu coração possa palpitar mais forte quando tocá-la. E que suas narinas se deleitem ao sentirem o perfume da flor, mesclado com o meu perfume. E possa balbuciar palavras encantadoras de sua boca linda. E que eu, ao ouvi-las, sinta-me amado e me torne um lavrador. E que eu possa sempre lavrar a dor que existe dentro de mim e cultivar flores, rosas vermelhas em meu jardim.

Mas, cruel vida, cruel fauna e flora. Quando você recebeu a flor em suas mãos, rejeitou-a por ser apenas uma. E não a segurando delicadamente, apertou o lenço e se feriu nos espinhos. Desconhecendo a razão de tanta indiferença ainda lançou frases fatais, dizendo que tal flor murcharia, morreria no dia seguinte...

São nesses momentos que muitos seres morrem... e alguns tentam continuar vivos ou simplesmente ignoram o falecimento... Nem todos sabem o que é amar; e que amar é simples, frágil, espinhoso, perfumado, gentil, carinhoso, atencioso, amigável e único como aquela rosa...

Sei que é uma única rosa. Sei também que ela vai murchar e vai morrer. Mas qual sentido ela teria para mim, se continuasse única e viva naquele canteiro. Então, que essa única rosa vestida com um perfumado tecido branco murche, que ela morra... mas que ela possa murchar e morrer belissimamente... não queria ver esse amor morrer em um monte de terra... que essa rosa possa murchar, que essa rosa possa morrer... mas que murche e morra em seus braços... E que você possa mostrar a essa rosa que sua morte é o resplandecer do amor que falta em muitas vidas... E se você considerar a própria rosa o amor, aprecie intensamente essa rosa, esse amor; pois, mesmo que você não queira, essa rosa vai murchar e morrer. A única coisa que lhe resta, então, é adubar e regar constantemente e medidamente esse amor...

Cordialmente
Márcio Adriano


texto: Crônica publicada no jornal “O Norte”, dia 17 de setembro de 2008
de Márcio Adriano Moraes -Escritor e professor do Colégio Indyue do Projeto de
Educação Popular