terça-feira, 31 de maio de 2011

Tsunami

Reabri as portas da memória
e não me reconheci.

Não tiramos fotos.

Os sonhos ruiram.
As ilusões desvaneceram.
Os planos foram levados.

Talvez, entre os escombros,
se ache resquícios do que fomos.
Mas, como os recuperar?

Após as tempestades
há de se aquietar e aprender
para então se recomeçar.

Escravos

Singrando pelos mares a miséria, a tempestade!
O navio negreiro, no seu porão, o povo de Daomé
Penumbra, fome, frio e chibatadas da crueldade,
Ó Cristo! Os capturados acorrentados pelos pés...

A manopla dos dias pesa no teu corpo em desgraça
Sonhos se desfazem sob o céu de temor e tremores
O sol da tua pátria na distância do cativeiro apaga-se
Choram, então, os escravos no palco dos horrores...

Na amplidão do horizonte, a sede e o tinir de ferros
O sangue jorra, banha o sol de vermelho sobre o sal
Estalam os açoites, negro arqueja, roda o azorrague,
O horror cobiça o teu corpo, a morte te faz o funeral

Oh, vidas ceifadas, como se ultraja assim o firmamento,
Onde estão os anjos? A cor dos céus é negra ou Branca?
Maldição! Nas senzalas, entoam-se os cantos de lamento,
O amanhecer veste-se de sangue, a vil chibata espanca!

No palor, a lua espia a peleja do incerto em céus varonil
Ruge a desgraça, o povo de Daomé geme na escravidão!
Os escravizados forçados a trabalhar nesse imenso Brasil
Era o chicote no ar, o chicote a sangrar pelo bem da nação...

Na indigência de um povo escravo não há o que resumir
Sim, somos nós os filhos dos capturados, dos adulterados
Ó tempo! Não temos vergonha de admitir e de assumir
Em cada pedra do Pelourinho está o sangue derramado...

Mas, vamos acabar com toda essa história que se diz
Revelando, agora, o sofrimento de um povo roubado
Escravizado, castrado... E, sempre, negado a ser feliz
Por toda miséria, somos nós teus filhos, os favelados...

Estamos jogados nas favelas, dependurados nos morros
Não temos morada, marcados nas calçadas como animal
Estamos nos buracos. Deus, ouça nosso grito de socorro
Sim, não temos nada, nos liberta desse cativeiro mental...

Pálidos guerreiros nas escuras profundezas do abismo
Estremecem-se nos horizontes dos céus reverberados,
Choram nos ferros gusa por teus descendentes nascidos
Na lei do ventre livre e na saga continuam escravizados...

Por isso não temos vez e sempre estamos nas cozinhas
No papel menor, no papel pior, servidão que nos corrói
Degenera a nossa sina na pele negra de Joãos e Marias,
A chibata estalando, a chibata sangrando até hoje dói...

Oh, auriverde pendão do meu Brasil ruge no teu estandarte
A saga, onde, crianças negras são os aprendizes de marginais.
Aos ferros embate de um potente povo sempre em descarte
É! Mas, transamos bem o corpo, a mente e o espírito nos aís...

Sou negão, o meu coração é a liberdade!

por Nelson Haroldo

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sei la........

Virei a página

As próximas.....
estão em branco

Os sentimentos
sangram

Vaza
Escorre

Não há como estancar

Deixo que pingue

Até
Quem sabe
derreta o gelo
que há em mim
agora..........