domingo, 27 de julho de 2008

Quero escolher meu VICE

Ontem, conversando com minhas amigas Lúcia e Nica sobre as vantagens de ser VICE, resolvi escrever esse texto.
Por favor, alguém me responda:

Por quê eu não posso escolher o meu VICE?

Por quê o VICE não faz campanha?

E, se eu não posso escolher o VICE, por quê eu tenho que ficar com ele se eu votei no OUTRO?

Por quê o SEGUNDO colocado na eleição não assume o cargo se o eleito “deu o fora”?
Afinal, se ele foi eleito por diferença percentual de votos a mais do que o segundo colocado, subentende-se que esse SEGUNDO é o vice do primeiro, ou não?

Por quê tenho que ficar com o VICE que nem sei quem é?

Não está na hora de mudar a lei eleitoral?

Cadê o direito do Eleitor?

Em São Paulo somos especialistas em ficar com o VICE, tanto no governo como na prefeitura. E não vou me ater a citar nomes ou promessas ditas por políticos que “juraram” que ficariam no cargo até o fim e “zarparam fora”.

Lembrei de uma frase dita por meu falecido cunhado Ricardo, um alemão sisudo e intelectual, que era mais ou menos assim:


“Nunca queira ser o primeiro. Sejas tão bom quanto, ou até muito mais, mas
deixe os louros para o primeiro. È mais tranqüilo e seguro”.

Na época, achei engraçado e nem prestei atenção ás referências que ele citava, inclusive do autor da frase, que não era dele.
Mas ela cabe bem nesse assunto: a política brasileira.

Por quê, ao invés de termos XPTO candidatos ao mesmo cargo, por quê esses MESMOS candidatos não se lançam a VICE?
Por exemplo: o Kassab se lançaria a VICE do Alckmin, assim por diante.
Goste ele ou não.

Teríamos dois votos:
Escolheriamos o nome para o CARGO e o VICE.

Daí você poderia me dizer:
- E os partidos? As coligações? O Programa de Governo?
E eu como tola eleitora te diria:
- E no final, tudo não acaba em pizza mesmo?


texto: Etelvina de Oliveira

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Desejo-te

Desejo primeiro que ames,
E que amando, também sejas amado.
E que se não fores, sejas breve em esquecer.
E que esquecendo, não guardes mágoa.
Desejo, pois, que não sejas assim,
Mas se fores, saibas ser sem desesperar.

Desejo também que tenhas amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Possas confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
Das tuas próprias certezas.
E que, entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que não te sintas demasiado seguro.

Desejo depois que sejas útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que sejas tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que, sendo jovem,
Não amadureças depressa demais,
E que sendo maduro, não insistas em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dediques ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo também que sejas triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubras
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que descubras,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes e que estão à tua volta.

Desejo ainda que afagues um gato,
Alimentes um cuco e ouças o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, te sentirás bem por nada.

Desejo também que plantes uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhes o seu crescimento,
Para que saibas de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que tenhas dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloques um pouco dele
Na tua frente e digas «Isso é meu!»,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum dos teus afetos morra,
Por ele e por ti,
Mas que se morrer, possas chorar
Sem te lamentares e sofrer sem te culpares.

Desejo por fim que, sendo homem,
Tenhas uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenhas um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.


texto: Victor Hugo (Poeta e escritor francês, 1802-1885)

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Do nariz aos pés

Sempre ouvi dizer que a vida começa aos 40.
A minha começou esses dias.
Está sendo em partes homeopáticas.
Sabe a última? Descobri dois extremos do meu ser: meu nariz e meus pés.
No caso do primeiro, soube por um otorrinolaringologista que meu nariz não funcionava.
Isso mesmo, ele olhou muito sério para meu Raio X das faces e mandou o diagnóstico:
- Você não está com sinusite, mas seu nariz está feio mesmo.
- Como assim? – pergunto entre surpresa e magoada.
Ele me chama para ver mais de perto “a foto” fatídica.
- Está vendo aqui?
Olho sem ver nada de mais nem de menos.
- Mas em todo Raio X o meu nariz sai assim.
- Ninguém nunca mandou você procurar um especialista?
- Não.
Saio da sala de posse do bendito Raio X e as guias de outros exames.
Dias depois, na consulta de retorno, não soube distinguir se o sorriso do “doutor” era de educação ao me vir ou se era de satisfação de poder me provar, pelos exames, que meu nariz estava um bagaço mesmo.
Depois das gentilezas de praxe descubro que desde os meus 15 anos eu não respiro pelo nariz.
Fazendo as contas do antes, do agora e do futuro: nunca tive nariz.
Como assim? Adoro essa frase.
- Você teve uma deformação na concha esquerda formando uma bolha de ar que fechou essa narina. Por sua vez, essa bolha empurrou o septo que obstruiu o lado direito.
- Ãhã. É?
- Teremos que fazer uma pequena cirurgia.
- Certo.
Achei melhor encerrar a conversa e ir consultar outros “especialistas”: minhas amigas de serviço, minha mãe, irmã, cunhadas e amigas de internet.
As opiniões foram bem variadas mas resolvi fazer.
Passada as primeiras semanas mais sensíveis, estou aqui com meu lindo narizinho – ele sempre foi uma graça -, funcionando que é uma beleza.
O próximo passo será aprender a respirar por ele.
Por outro lado, por volta de 1,56 m de distância, no extremo sul do corpo tive uma grata surpresa: meus pés.
Não é que nunca prestei muita atenção nos “bichinhos”!
Semana passada, em plena aula de Narrativa, a professora solta uma frase contundente:
- Tem muita gente que não lava os pés. Acha que, só porquê já lavou os cabelos e ensaboou o corpo, não precisa lavá-los. A água que escorre do corpo já faz isso.
Você lava os seus?
Pode afirmar com 100 por cento de certeza? Tirando os dias de muita pressa?
Pessoalmente, tive que puxar pela memória.
Acho que perdi tanto tempo controlando o diâmetro da barriga e a queda livre das mamas e glúteos que nunca enxerguei os pés.
Lavar, secar entre os dedos, passar creme hidratante isso tudo é tão automático que nunca fiz isso como realmente se deve: com carinho. O máximo do máximo é levá-los ao pedicure.
É engraçado como deixamos de prestar atenção em nós.
No meu caso, os pés assim como o nariz são só exemplos.
Vamos nos acostumamos com a ausência disso ou daquilo, ou valorizamos tanto a aparência no geral que esquecemos os detalhes.
De que me adianta um corpo escultural – ou nem isso -, se não tiver meus pés?
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Parei um pouquinho para olhar pra eles.
Depois dessa aula passei a cuidar melhor deles.
Aliás, ando cuidando mais de mim.
Descobri que se nunca notei o que está na cara nem os pés, que me mantêm em pé, o que dirá dos meus sentimentos?
Pensando bem, a vida não começa quando nascemos e sim quando nos descobrimos.
Pode até ser aos 40. Quando chega a hora, chegou a hora.
Sempre é tempo para aprender e descobrir o esquecido, o que está fora de uso.
Quando fazemos isso podemos começar a pensar para onde iremos em seguida.



texto: Etelvina de Oliveira

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Bonecas de Papel


Minha amiga Bel me postou essa imagem no orkut e, automaticamente, me veio a lembrança minhas bonecas de papel.
Você teve alguma?
Eu guardava minhas moedas e quando completava o valor ia satisfeita a banca de jornal e escolhia o modelo que ainda não possuía. Em uma mesma cartela vinham a boneca e vários modelos de roupas, sapatos e acessórios.
Nossa, quantas histórias criei. Era um prazer indescritível encaixar aquelas peças naquele manequim de papel cartão mas que nas nossas mãos criavam vida, nos transportavam para sonhos.
Será que as meninas de hoje curtiriam essas bonecas?
Na internet essa mesma ideia é usada em sites de "bonecas virtuais".
Mas - que me perdoem o plagio do comercial da Mastercard -, aquele gostinho de planejar a compra; a ida as bancas; o destacar peça por peça e o zelar pela conservação de cada uma delas como se fossem relíquias... isso sim não tinha preço.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Eu li Machado de Assis

Não foi por gosto, mas por obrigação que tive meu primeiro contato com as obras de Machado de Assis.
Por exigência escolar tive que ler: A mão e a Luva; Helena; Memórias Póstumas de Brás Cubas; Quincas Borba e Dom Casmurro.
Depois de tanto tempo só posso agradecer por isso tudo, pois foi nessas primeiras leituras - desse e de outros grandes romancistas brasileiros - que descobri meu amor pela leitura e pela escrita.
Aprendi a sonhar.
E, a partir de lá, ficou fácil me imaginar em outra época, vestindo longos vestidos rodados, usando chapéus, tendo minha cintura apertada por espartilhos rendados.
Sonhar com amores impossíveis e cavalheiros de terno e gravata segurando nas mãos um lindo chapéu branco, como se eu fosse uma de suas personagens.
Através dessas leituras escolares pude me ver em senzalas, em cortiços, emaranhada com padres e moços ingênuos e sonhadores como todos nós somos.
Uns mais, outros menos.
Hoje, 100 anos sem Machado de Assis e outros tantos, só posso brindar aos homens que foram agraciados por Deus pelo dom da escrita e felicitar aos corajosos que ainda se arriscam.

Etelvina de Oliveira

Mulheres do topo da Árvore

As Melhores Mulheres pertencem aos homens mais atrevidos.
Mulheres são como maçãs em árvores.
As melhores estão no topo.
Os homens não querem alcançar essas boas, porque eles têm medo de cair e se machucar. Preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão, que não são boas como as do topo, mas são fáceis de se conseguir.
Assim, as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas, quando na verdade, ELES estão errados...
Elas têm que esperar um pouco mais para o homem certo chegar... aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore.

texto: Machado de Assis
100 ANOS SEM ELE

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Dois pesos, duas medidas

Ainda me surpreendo com algumas coisas. Acabei de ver na TV o repudio de alguns senadores chocados com a prisão de um banqueiro. Isso depois de um ano de investigação.
Será que entendi mal? Parece que o senador disse que: “é justo prender pobres e ricos.... mas os muito ricos? E usar algemas?.....”
Eu devo ter ouvido errado.
Na hora me veio á mente a imagem da Nazareth, uma antiga vizinha nossa que encontrei ontem na casa da minha mãe.
Mulher rígida que se orgulha de ter vindo de Pernambuco para São Paulo para ganhar a vida.
Sem papas na língua sempre fez questão de ser correta em tudo que faz.
Nem que para isso ofendesse as pessoas a sua volta. Não concordava com o erro nem que perdesse um amigo.
Contava as gargalhadas que aqui na cidade conheceu o seu Givaldo, um sergipano lindo de morrer. Depois de algum tempo de namoro – com muito respeito como faz questão de dizer -, casaram-se e tiveram quatro filhos. O Francisco é o caçula.
Mãe zelosa, nunca deixou os filhos soltos por ai. Estava sempre de olho, orientando e fiscalizando os “meninos”.
Os filhos casados ainda hoje falam com os pais antes de tomar qualquer atitude.
Quando o Francisco ia completar 18 anos o pai comprou um Fusca velho para que o rapaz fosse arrumando aos poucos e valorizasse seu primeiro carro.
O que terá sido feito do Fusca?

Ontem foi feriado aqui em Sampa aproveitei para visitar minha mãe e levei um susto quando encontrei a Nazareth lá.
Ela está magra e sem vida.
- Oi Nazareth, você está bem?
- Ontem não fui ver o Francisco.
- Não, Nazareth!
- O Givaldo foi.
- Como ele está?
- Indo.
- Ele está com quantos anos?
- Vai fazer 19 no final do ano.
Tento imaginar como está sua aparência hoje. Não consigo. Na mente só ficou a imagem daquele menino tímido, cabisbaixo e tranqüilo. Segundo os pais, um menino obediente, estudioso e extremamente fechado.

Parece que foi ontem.
- Filha, peça oração na igreja o Francisco e mais oito meninos foram presos.
- Não acredito! O Francisco?
- É. Ele saiu para sua primeira festa com amigos e agora estão todos na delegacia.
Coloco o fone no gancho como se estivesse colocando uma barra de 100kg no suporte.
Mas o que será que fizeram esses meninos?
A primeira coisa que faço ao chegar na igreja é pedir a oração. Comovidos pela situação dessas mães sou atendida prontamente.
Não consigo tirar essa história da mente.
O telefone toca várias vezes mas minha mãe não está em casa.
Bem mais tarde ela me liga:
- Oi filha, tudo bem?
- Tudo. Mas e o Francisco?
- Ai filha, ele esta preso.
- Mas como? Ele não é primário, menor?
- Ele fez 18 anos no mês passado.
- Sei. A senhora está chorando?
- Ai filha, a Nazareth está arrasada. Bateram muito nos meninos.
- Mas não podem fazer isso – grito do outro lado do fone.
- Mas eles tentaram roubar o carro de um policial que estava parado namorando. A moça é filha de um juiz.
- Mesmo assim mãe.
- Não sei. A Nazareth disse que o Francisco teve que assinar por tudo. Ele e outro menino que fez 18 anos ontem.
- E os outros?
- São menores e já foram levados pra FEBEM. O delegado e os policiais não deixaram a advogada falar nada. Não quis ouvir nem os pais.

Olho para o rosto daquela mãe e fico muda.
Não há mais nada da Nazareth que conheci. Como não tinham dinheiro nem conhecimento nenhum, bateram na porta de uma advogada recém formada dando graças por ela cobrar só CR$ 2.000,00 para ir com eles à delegacia.
Não entendo de leis – e quem entende -, mas dois meses depois o Francisco foi julgado e pegou 11 anos de prisão, sem apelação.

Texto: Etelvina de Oliveira

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Se te comparo a um dia de verão - Willian Shakespeare

Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:


Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Muitos choram

Nós cobramos justiça, mas até onde somos justos.
Nos tempos atuais quem não gostaria de contar com a proteção de um guarda-costas?
Quem não gostaria que seus filhos fossem acompanhados por um agente de segurança?
Mas esse “protetor” é humano, ele pode falhar contra o outro.
Quantas vezes já reclamamos de falta de segurança e exigimos mais policiais nas ruas?
Todos os meses centenas de policiais saem das academias. Eles são mal preparados e mal remunerados, mas precisam trabalhar. Eles têm dívidas, filhos, moram em situações precárias convivendo com drogas e roubos. Acompanhamento pscológico nem pensar!
Quantas vezes exigimos mais ação desses policiais?
Super heróis só existem nos filmes.
Temos visto várias falhas desses profissionais.
Como a mãe que teve seu carro metralhado e perdeu seu filho vai poder sair às ruas novamente?
Cobramos leis mais duras contra infratores.
O alvo da nossa “sede de justiça” tem sido os menores.
Seja sincero, na hora da ira, você nunca desejou que eles fossem espancados ou pior?
Mas e se esse menor fosse da sua família?
Jovens militares do exército entregaram menores aos traficantes para esse “corretivo”. Agora várias mães choram por seus filhos. Uns ceifados pela morte e outros pela vergonha e prisão.
Você viu as cenas da prisão de um menino de 15 anos, de braços levantados se rendendo aos policiais depois de uma perseguição? A reportagem, que foi exibida em alguns jornais de TV, denunciou que ele chegou morto ao hospital.
E a nova "lei seca"?
Quantas vezes você dirigiu depois de 5 ou 10 “cervejinhas” com amigos?
Quantas vezes depois de uma discussão de trânsito você não se surpreendeu com medo de ter uma arma ali na hora?
Isso sem falar nas conduções lotadas e no mau atendimento nos bancos, no serviço público, nas lojas e etc.
Já parou para pensar se ao invés do morto ou ferido ser um conhecido seu, ele fosse o que segura a arma ou o volante?
Está na hora de deixarmos a hipocrisia e nos DESARMARMOS.
Mas isso tem que ser por DENTRO.

"O homem bom do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o mau do mau
tesouro do seu coração tira o mal, porque a boca fala do que o coração está
cheio." Lucas 6:45

texto: Etelvina de Oliveira

sábado, 5 de julho de 2008

Quero um amor - Nikitita... a poetinha de Niterói

Quero um amor
para amar todas às vezes
que a solidão repousar
sobre o meu leito...

um amor sereno
a afagar-me com jeito
enquanto o dia dorme
nos braços da noite...

que não seja tão jovem
e assim mesmo se derrame
na minha pele madura
mas ainda quente...

que me cante em versos
que de paixão me encante
e de novo me desperte
para não morrer de tédio...

que seja um amor eterno
no tempo que a vida urge
para saciar a carne
e me abrasar o peito...

que seja um amor ardente
a dedilhar-me em música
sem convenção, sem regras
apenas, convergente...

que se deixe fluir
como orvalho na folha
e me faça tão sua
que eu esqueça de mim...


texto; uma amiga sa sala B

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Benditos! - Machado de Assis

Benditos os que possuem amigos,
os que os têm sem pedir,
Porque amigos não se pede,
não se compra nem se vende.
Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos,
os que falam com o olhar,
Porque amigo não se cala
não questiona nem se rende,
Amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos,
os que entregam o ombro pra chorar,
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora
pra consolar!

Benditos sejam os amigos
que acreditam na tua verdade,
ou te apontam a realidade,
Porque amigo é a direçãoé a base,
quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos
de raízes, verdadeiros,
Porque amigos são herdeiros
da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!

terça-feira, 1 de julho de 2008

Um ótimo livro

Acabei de ler um livro lindo que recomendo a todos: A Cidade do Sol, de Khaled Hosseini, o mesmo autor de O caçador de Pipas. Rico em detalhes e lembranças. Uma história envolvente e sofrida. Ela aguçou, ainda mais, minha sensibilidade. Só para você sentir o gostinho transcrevo dois trechos do livro que mexeram com minhas emoções.

“Como um amante da arte fugindo de um museu em chamas, agarrava o que podia – um olhar, um sussurro, um gemido -, buscando preservá-lo, evitar que desaparecesse. O tempo porém é o mais inclemente dos incêndios e, afinal, não deu para salvar tudo, Mas ela conseguiu guardar algumas coisas.”

“Ela bem sabe que, para a filha, as preces são uma forma de lembrar Mariam, de continuar a manter viva aquela lembrança mesmo que o tempo siga o seu curso e que acabe eliminando Mariam do jardim de sua memória, como uma plantinha arrancada pela raiz.”

Etelvina de Oliveira

Apenas saudade

Houve um tiro.
Um disparo no meio da noite, ceifa-se uma vida, uma história.
Não houve depois um caminho.
Não importa mais a mão que segurava a arma ou os motivos. Acabou.
Daquele momento em diante nunca mais um sorriso, um aceno.
Nunca mais a insistência daquele último beijo, o abraçar as crianças, aquela despedida cheia de volta.
Faz quanto tempo mesmo?
Quem apagou a luz?
Quem eram aquelas pessoas de luto?
O que aconteceu com os anos?
Quando parei de culpar-te por ires embora?
Cada novo tiro, cada nova morte lembro-me de ti. Parece que a dor do outro ascende em nós a nossa própria.
Nesse momento tem outras pessoas chorando de dor pela perda.
Não choro. Sinto saudades.
Saudades do antes, dos risos, dos olhares, da cumplicidade, do companheirismo, da rápida passagem por nossas vidas.
Em cada um deixas-te uma marca.
Em todos, deixas-te a lembrança de afeto, atenção e união.
Te vejo nos teus frutos.
Não consigo odiar a morte nem o quê mata.
Na verdade, o que sangra é a vida que passa.

Etelvina de Oliveira

em memória de Silas Carvalho de Moura - 1963/1994