sexta-feira, 26 de julho de 2013

Desabafo

A internet está cheia de manifestos e protestos contra isto ou aquilo, dentre elas a "classe médica" defendendo seu croissant de cada dia. Confesso, desconheço os problemas internos da "classe médica". Meu conhecimento talvez seja rasteiro e um tanto preconceituoso, admito. Talvez por isso não tenha recebido bem as palavras ditas por um representante do Conselho de Medicina em entrevista na CBN, no último dia 20/7. Resumindo, segundo ele, os médicos não têm condições de trabalhar em locais sem estrutura/condições; se os recém formados conviverem com doentes caindo de macas e aglomerados nos corredores eles irão desistir da profissão; que é contra a vinda de médicos estrangeiros; discorda dessa decisão oportunista do governo e, claro, achou um absurdo o veto da presidente contra a exclusividade dos médicos para diagnosticar doenças.
Estranhei, porque, segundo ele mesmo, quando alguém fica doente a primeira atitude é correr ao médico para saber o que tem e só depois procura profissionais alternativos. Então já é assim, o que mudou o veto?
Pode ter sido falha de interpretação da minha parte, mas estou cheia destas classes. Classe de políticos, classe de médicos, classe de juízes, classe de autoridades, classe de "homens da lei", classe de fora da lei, etc. Faço parte dos demais.
Com base na entrevista que "posso não ter entendido as entrelinhas" reforçou os meus conceitos ou pré-conceitos.  Quem consegue fazer medicina? Na grande maioria os que conseguem pagar uma boa escola particular, tradicional e cara. E estudam onde? Nas melhores faculdades públicas. Com raras exceções, mas elas existem, um dos "demais" conseguem realizar este sonho. Culpa de quem? Deles? Não. Culpa da formação escolar adquirida. Os alunos que chegam lá estudam seis anos e fazem especializações que, hoje em dia, chega ao ponto de se ter especialista em unhas. Não que o corpo humano não mereça uma atenção especial para cada detalhe dele, mas, em minha opinião de leiga, isso encarece as consultas, dificulta o atendimento da população e  diminui a área de atuação do próprio médico. Foi-se o tempo em que um único médico resolvia todas as nossas dores.
Depois de bem ou mal formados é natural que estes profissionais queiram trabalhar em boas condições, em hospitais de primeira linha. Mas, nem o Sírio Libanês nem o Einsten comportam toda a "classe médica". Porque é lá, nestes dois hospitais mais conhecidos, referencias nacionais, que estão os melhores equipamentos, melhores salários, melhores "clientes", etc. Mas e o juramento de salvar vidas? Ele se refere somente a quem pode pagar?
No meu caso, meu convênio me permite ser atendida em um hospital simples, mas bem cuidado. Limpo, bem equipado e com ótimos profissionais, administrativos e técnicos. Só que levo entre 40 a 90 dias para ser atendida por um especialista. Quando isso acontece, levo outros tantos dias para poder realizar os exames solicitados, dependendo do exame chega há meses. Depois dessa maratona toda começa a batalha para conseguir marcar o retorno que, na maioria das vezes, não será com o mesmo médico que fez o primeiro atendimento, pois o mesmo já se demitiu alegando falta de condições de trabalho.
Quanto à situação atual da saúde, estamos num caos, e aí? Cruzamos os braços? Eu posso usar meu hospital e ser atendida por adolescentes recém formados com carinha de modelo de TV. E o resto da população?
A mídia mostra o dia a dia dos hospitais públicos e foram os jornalistas que denunciaram as vagas disponíveis pelo país a fora, com salários de até 30 mil, que permanecem abertas depois de anos. Não foi o governo. E olha que eu já admiti minha alienação. 
A culpa é da falta de condições de trabalho e eu pergunto: e os doentes? Que morram? É isso?
Os Médicos sem Fronteiras trabalham em que condições na África? Ainda segundo a "classe médica", é um risco atender sem condições apropriadas e eu torno a perguntar e os doentes? E os pobres?
O pobre não tem nem condições apropriadas de sobrevivência que dirá num hospital. Se um "doutor" se ferir em um acidente ele terá que ser atendido em qualquer lugar mais próximo, tenha condições ou não. Tomara a Deus que lá tenha um médico.
Neste momento não podemos nos preocupar com as intenções ocultas do governo, como afirmam os entendidos no assunto, e sim em solucionar problemas. Tem gente morrendo sem atendimento médico, então: QUE VENHAM OS MÉDICOS! Seja de onde for.
Ou que voltem os curandeiros e benzedeiras para quem acredita neles. E parem de perseguir os que são curados pela fé em Jesus Cristo.
O que não dá mais é crer em discuso bonitinho deste ou daquele lado.
Doentes aglomerados em corredores é sinal de migração para os grandes centros por falta de médicos onde eles "sobrevivem".
Resumindo, é falta de humanidade esteja ela vestida de branco ou de roupa comum.