sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Parabéns para nós.

Dia 29 de setembro foi seu aniversário. Com certeza mesmo, só seus pais se emocionaram de verdade. Eu esqueci. Lembrei depois.

Acho que preferi deixar passar em branco.
Aliás, percebo que tenho feito isso com tudo que diz respeito a ti. Como se tivesse trancado um segredo a sete chaves.
Me dei conta disso hoje.

Logo que acordei sua imagem me veio á mente. Pela segunda vez, depois que você se foi, senti vontade de recordar e escrever algo sobre nós. Esta, na verdade, é uma carta para mim e não para você. Depois escreverei um poema no outro blog.

Está sendo bom colocar pra fora o que adormece em mim desde sempre. Na pior das hipóteses, se ninguém ler esta missiva, pelo menos eu terei deixado aqui tudo de nós dois.

Para muitos pode parecer estranho, mas não te amo mais.

Não da forma que amei; que achava que era o ideal e certo; da maneira que aprendi que era amar.

Não há mais posse, ciúmes, inseguranças, medos.

Você se acomodou em mim. Faz parte das minhas entranhas, dos nossos frutos. Quando seu filho sorri, fala, ou caminha pela casa, há você nele. Mesmo que nenhum dos dois fale ou se lembre de você. Eu sei que há.

Demorei, mas compreendi que não existem comparações ou infidelidades quando quem se ama faz parte de si mesmo. É assim com nós dois. Estamos sincronizados.
Será essa a palavra?

Mas não foi sempre assim. Levou anos para eu pensar desta forma.

Primeiro foi duro aceitar que você me deixou. Depois, senti muita raiva.
Mas muita raiva mesmo. Raiva de ficar sozinha. Raiva da vida. Raiva dos filhos que planejamos para criarmos juntos. Raiva da morte que não me levava.

Acho que quando sofremos sempre renegamos o que sentimos e queremos achar um culpado. Nem que o nosso culpado seja totalmente inocente.

Só sei que não sabia o que fazer da vida estando sozinha. Principalmente, depois de ter achado que a vida se resumia em nós dois.

Nos apaixonamos e decidimos dividir nossas vidas um com o outro. Casar e ter filhos foi uma conseqüência natural.

Quando penso nisso me vem a na mente as aves que preparam o ninho para acolher seus ovos. Mentalizo uma estrada que leva a uma praia tranqüila com ondas quentes e calmas. Se sabe que pode ventar e esfriar. O mar pode ficar bravio mas o calor da mão que segura a nossa nos aquece.

Sei lá. Eu tinha certeza que seriamos EU e Você pra sempre.
E você foi embora.

Putz!

Tive que ruminar esse Adeus por anos. Houve época que arrastava sua presença como se fossem bolas de ferro presas aos meus pés. Outras vezes, você era uma cruz nas minhas costas que me prendia a saudade.

Nem sei quando sobrevivi a você. Não tenho esse marco limítrofe bem claro.

Acho que foi o famoso tempo.
Esse tempo que tanto se fala.

Sei que tudo serenou em mim.

Nossa, mais um aniversário!
Como teria sido?
Será que isso importa?

Talvez eu te esqueça de vez. Quem sabe um dia eu releia tudo isso aqui no blog e até ria.

Só sei que estamos bem.

As crianças cresceram e eu envelheci por fora.
Não curto mais as mesmas coisas que curtíamos juntos.
Não choro mais com raiva de você nem de mim.
Não brigo mais com a emoção.

Pouco tempo atrás, me apaixonei, fiz castelos de areia e desamei.

Uma coisa é certa: a vida segue em frente e Deus nos abençoou com a capacidade de amar.

Amor se aprende a cada dia.

Então, no final das contas, PARABÉNS pra mim, parabéns pra nós.



para Silas, em memória
29/09/63 a 11/01/94

4 comentários:

Majoli disse...

Oi querida amiga, nossa sua carta muito me emocionou.
No começo pensei que ele tivesse te abandonado, em vida.
Depois a cada linha que lia fui percebendo que ele partiu, disse adeus para sempre.

Não sei mais o que dizer.
Não sei se entendo ou não essa separação, é difícil aceitar a morte.
Beijos com carinho no teu ♥

Uma aprendiz disse...

Obrigada, Majoli

a separação é sempre muito dificil.

Todos nós temos um prazo de validade por isso devemos aproveitar e fazer o melhor possível.

um grande beijo

Pena disse...

Estimada e Simpática Amiga:
No momento da partida há sempre uma dor imensa que não esqueceu.
Parabéns pela carta e parabéns pela sua narração de exemplo da fidelidade de si.
Gosto imenso de me ver apaixonado.
Não sou daqueles(as) que "vestem" e sentem um amor desencantado e, por isso, navego e navegarei sempre no mesmo "barco" da vida.
Adorei a narrativa. Escreve fluente e extraordinariamente.
Um exemplo a seguir.
Beijinhos amigos.
Com respeito, estima e consideração.
Sempre a lê-la atentamente pela beleza que transmite.

pena

MUITO OBRIGADO pela visita que adorei.
Bem-Haja, notável Amiga Enorme.

Uma aprendiz disse...

Obrigada, Pena

suas visitas e seus comentários me deixam feliz.

beijos