Certamente, em algum momento da vida, você já se deu conta de que há um acúmulo de coisas ao seu redor. Quem tem um teto para morar, tem coisas que foram adquiridas ao longo dos anos, e essas coisas dividem o mesmo espaço com você. Por vezes, elas disputam o mesmo espaço com você.
No ano passado, estive em Santa Catarina e lá encontrei um casal de amigos que não via há algum tempo. Eles moram em um apartamento pequeno e agradável, de frente para o mar, mas adquiriram o apartamento de fundos para depositar as coisas que foram colecionando ao longo da vida. Para viver bem, bastaria o primeiro apartamento desentulhado de coisas inúteis. Mas o que fazer com as coisas inúteis que foram compradas, se ainda que inúteis, elas pertencem a quem as adquiriu?
As pessoas se dão conta tardiamente de que são eternamente responsáveis por aquilo que adquirem. Afinal, ninguém é louco para comprar um objeto e depois jogá-lo na rua. Isso seria uma inconsequência condenável. Contudo, levar para casa qualquer coisa sem analisar a sua real utilidade me parece tão insano quanto sair por aí rasgando dinheiro, ou abandonando nas esquinas o que se comprou.
Nem sempre pensei assim.
Na década de 80 havia um consenso generalizado de que morar bem era uma questão de muitos metros quadrados. Tudo exageradamente grande e compartimentado.
Uma boa casa tinha que ter uma sala para as visitas, uma ou duas salas de televisão, uma biblioteca, uma sala de jantar, uma copa separada da cozinha, uma sala toda envidraçada com vista para um jardim, para que se pudesse dizer: este é o jardim de inverno.
Qual seria a função de um jardim de inverno?
Bem, isso não importava muito, desde que se tivesse um jardim de inverno. Um jardim de inverno era um modismo conceptual arquitetônico. Assim, uma casa era concebida em torno da concepção social do momento. Se não houvessem problemas de ordem financeira, também não haveria restrição na hora de dimensionar o espaço físico.
Preencher esse espaço era o segundo momento crucial. Espaços grandes pediam móveis grandes, feitos sob medida para o projeto. Móveis grandes, por sua vez, não podiam ficar vazios. Portanto, o passo seguinte era preencher esses móveis com objetos comprados aleatoriamente. Coisas caras e coisas não tão caras. Coisas atualizadas que logo se tornavam ultrapassadas. Coisas úteis e coisas inúteis. Coisas raras e coisas vulgares. Coisas que uma vez levadas para casa deixavam de ter valor de mercado e se tornavam eternamente nossas.
Preencher esse espaço era o segundo momento crucial. Espaços grandes pediam móveis grandes, feitos sob medida para o projeto. Móveis grandes, por sua vez, não podiam ficar vazios. Portanto, o passo seguinte era preencher esses móveis com objetos comprados aleatoriamente. Coisas caras e coisas não tão caras. Coisas atualizadas que logo se tornavam ultrapassadas. Coisas úteis e coisas inúteis. Coisas raras e coisas vulgares. Coisas que uma vez levadas para casa deixavam de ter valor de mercado e se tornavam eternamente nossas.
E na hora de vender essa casa, surgia sempre a grande questão: vende-se uma casa, com móveis e objetos no entorno, ou vende-se móveis e objetos e no entorno vai a casa?
Como mudar para uma casa menor, se na inconsciência da tendência consumista precisamos de um espaço maior para as coisas, do que para nós que somos os donos dessas coisas?
Eu não sei se mudou o mundo, ou se mudou a minha concepção de vida, mas vejo com simpatia a tendencia minimalista e integralizadora dos novos projetos arquitetonicos.
Eu não sei se mudou o mundo, ou se mudou a minha concepção de vida, mas vejo com simpatia a tendencia minimalista e integralizadora dos novos projetos arquitetonicos.
Não vejo sentido em projetos enormes com espaços de pouco uso. Para mim, quanto menos compartimentada for uma casa, melhor. Espaços integrados favorecem o convívio. Uma construçao menor, por sua vez, evita a aquisição de coisas inúteis. Que uma vez adquiridas, serão nossas até que a morte nos separe.
Portanto, mulheres do Brasil, na hora de levar para casa, mais um vaso, pense se terá flores. Na hora de levar para casa mais uma calça jeans, pense no mar de indigo blue que domina a terceira porta do seu armário. Na hora de levar para casa mais um aparelho de jantar, pense quantas vezes no último ano você recebeu convidados para jantar.
E se quiser mesmo adquirir mais um aparelho de jantar, e não tiver com quem inaugurar, convide-me para o evento.
Mesmo que seja uma legítima porcelana chinesa, adquirida no Paraguai, já vou avisando: Eu gosto mesmo é de arroz com feijão, ôvo frito, bife e salada.
Texto: Ana Maria Ribas Bernardelli.
www.anamariaribasbernardelli.com
Texto: Ana Maria Ribas Bernardelli.
www.anamariaribasbernardelli.com
12 comentários:
Oi, Neta!!!
Pensando desta forma que eu e seu irmão gostamos tanto de mudar. A cada mudança doamos coisas velhas ou sem utilidade.kkk.
Bjks,
Solange
Querida amiga Etelvina,gostei do teu texto e estou plenamente de acordo contigo!!!
Bom fim de semana,
Beijinhos de carinho
Lourenço
Realmente essas donas moças gostam de comprar tudo que vêm pela frente, resultado, entulhos e mais entulhos de inutilidades dentro de casa! kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Oi Dona Etelvina, sugiro, que ao comprar táis coisas que virarão inutilidades comprem também tapetes porque ai joga-se tudo para debaixo deles e ai pronto resolvido a questão ninguém verá nada! kkkkkkkkkkkkk
Valha-me Deus! kkkk Jogue praga não fia! kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Muito boa crônica é isso mesmo que acontece...
bjs
O Sibarita
ah, já eu gosto de tudo grande... mas grande de espaçoso só pra não ter nada, só pra ter espaç, rs
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Eu sou vazia? rsrs
Oi, Solangeeee
que surpresa sua visita!
Adorei!
Volte mais vezes.
beijos
Oi, Lourenço
Esse texto não é meu, minha amiga Ana é quem o escreveu.
Ela é uma ótima escritora. Você já leu os textos dela no meu outro blogue?
Ainda estou sem net em casa, por isso a demora nas respostas.
um grande beijo
Oi, Sibarita
Quando tiver tempo visite o site da Ana, ela escreve maravilhosamente.
Eu gosto muito.
Siba, ainda estou sem net, já estou começando a acahr que a Telefônica deveria voltar para Espanha kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
beijos
Ingrith
eu prefiro espaço. Só tenho o esencial kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
beijos
Oi Etelvina!
Concordo com a autora. Texto bom para ser lido e guardado; esse pode.rs
Um beijo com carinho!!!
Oi, Zé
Essa minha amiga escreve pra caramba, assim como você.
beijo
Olá minha amiga!
um belo e sensato texto.
Realmente tem pessoas que ao longo dos anos acumulam só tralhas e depois não sabem o que fazer.
O melhor é vivermos bem com pouco ou sem nada, apenas o essencial para se viver .
Beijos.
Uma semana abençoada por Deus.
Fique na paz.
Adorei seu texto!
Beijinhos da sua amiga de sempre.
Regina Coeli.
Concordo, Regina.
Sou a favor do minimo possível.
beijos
uma ótima semana pra ti
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