quinta-feira, 26 de junho de 2008

De cavaleiro à cavalheiro

Hoje fui surpreendida por um cavalheiro no metrô que se levantou e me cedeu o lugar. Moro em Sampa onde os meios de transporte estão sempre cheios e apertados
E não é que hoje, dia 25 de junho de 2008 – marquem essa data -, um homem cedeu o lugar pra mim, uma simples mulher!
Não foi só eu que fiquei surpresa, isso gerou comentários por mais 4 ou 5 mulheres que estavam por perto da cena.
Essa atitude me fez viajar no tempo e lembranças gostosas me vieram á mente.
Não sei como foi sua infância, pré-adolescência e juventude, mas vou te contar um pouco da minha. Quer ler?
Pois bem, houve um tempo em que eu sonhava com cavaleiros. Vindos em um cavalo branco maravilhoso.
A aparência dependia do meu humor, mas eram sempre lindos de morrer.
Procurava terminar meus afazeres domésticos – que toda mocinha deveria fazer para ajudar a mãe – e me trancava no quarto.
Ali eu vestia as roupas da minha mãe ou das minhas irmãs mais velhas, calçava seus sapatos e me enfeitava com suas pulseiras e colares.
Minha irmã mais velha, por parte de pai, mantinha o guarda-roupa trancado a chaves para que eu não mexesse em nada. Depois de mais de trinta anos é que lhe contei que eu invadia seu espaço só para admirar suas coisas. Tudo organizado em caixinhas. Eu olhava tudo aquilo e imagina que essa era a grande diferença em se tornar adulta. Passar esmalte vermelho nas unhas, usar todos aqueles enfeites, saltos altos e o máximo do máximo: usar meias de seda.
Quando não estava fuçando nessas coisas, me virava com o que tinha disponível: lençóis, colchas e toalhas de banho.
Enrolava-me nesses panos e fazia vestidos de calda longa. Amarrava na cabeça toalhas para fingir que eram meus cabelos loiros. Outras vezes, eram longos e negros como a noite.
Criava histórias mirabolantes para que meu cavaleiro viesse me resgatar.
Sempre apaixonado; inteligente; forte; meigo e educado.
Meu cavaleiro poderia ser um príncipe, um jovem apaixonado que adorava andar á cavalo, um fã, mas sempre alguém sem defeitos.
Depois de um tempo, apesar de continuar fantasiando e inventando histórias, meu cavaleiro começou a tomar as formas dos meus paquerinhas – gíria antiga, ?
Tinham a aparência de um amigo de escola, um vizinho, um professor, um artista de TV, um herói de filme, um primo meu ou de alguma amiga, irmão de amiga, enfim meus cavaleiros eram conhecidos, mas continuavam perfeitos e maravilhosos.
Conversar com esses personagens no real, cara-a-cara, nem pensar. Ficava roxa só de imaginar.
Outro dia fiquei encantada e surpresa ao ler um texto no blog de um amigo, muito bem escrito e revelador. Descobri que enquanto eu sonhava com príncipes e romances os meninos da minha geração estavam disputando as meninas nos bailinhos. Claro, dançando e apalpando aquelas oferecidas.
Aposto que nem vermelhas elas ficavam!
Mas, voltemos as minhas lembranças.
Depois de um tempo troquei esse cavaleiro por um namorado de verdade.
Eita, além de não ter cavalo ainda era ciumento e possessivo. Comparando com meus sonhos, nem era tão bonitinho assim. Mas os bonitinhos e perfeitos estavam sempre namorando com alguém.
Acho que ai começou a insatisfação e comparações que sempre fazemos. Levamos séculos para conquistar alguém e quando o fazemos passamos a achar que o outro passarinho fora da gaiola é melhor que o nosso.
Depois dos 40 e tantos, muitas vezes, deixamos de achar qualquer tipo de disponíveis.
Estão todos atrás de ninfas ou colecionando “experiências”. Já não são assim aqueles príncipes lindos e maravilhosos mas se acham. E muitos nem sabem a diferença entre cavaleiro e cavalheiro.
Onde estão os homens gentis, sensíveis, delicados e românticos?
Lembrei de uma amiga da minha irmã que fez um comentário ímpar sobre isso. Ela é professora não sei de quê, ótima profissional e sozinha.
Ela resumiu tudo assim:
- Primeiro eu queria um homem formado, bem empregado, com bens, educado, fino, trabalhador e intelectual. Depois de um tempo, observando alguns casais que conheço e vendo muitos homens que chamam as mulheres de gordas, burras, desleixadas e as fazem passar vergonha na frente dos outros, fui diminuindo as minhas exigências. Agora, se ele tiver um emprego, souber escrever o nome e souber como tratar uma mulher o resto eu ensino.
Talvez por isso, um homem cavalheiro no metrô cause tanto furor entre as mulheres.

Etelvina de Oliveira

4 comentários:

Maripa disse...

Oh,minha querida,achei o seu texto um mimo!
Os cavalheiros de agora têem muito que aprender...dar o seu lugar a uma senhora? Ainda há alguns, mas estou em crer que é uma espécie em vias de extinção...:))

Beijo carinhoso.

Sonia Regly disse...

Ethel,
Vc é muito engraçada, escreve bem, solto, leve, gostei muito do seu texto. Coloquei uma postagem sobre a Biblioteca Digital, passe por lá e confira!!!! Beijinhos e continue escrevendo!!!!!

Sonia Regly disse...

Amooooooooo suas visitinhas e seus sábios comentários.E fico muito feliz , pois vc sempre escreve algo sobre o post, me sinto honrada.Beijinhos.

Sonia Regly disse...

Amiga,
Coloqui um texto maravilhoso do Paulo Moreira, vá lá conferir!!!! Gosto muito de vc!!!!!