terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Soneto

Entre ti, em ti, eu me perco, ando sobre arrecifes, sobre feras
Na travessia do silêncio, no olhar perdido, distante, sombrio
Percorrendo os sentidos de quem partiu ou de quem espera
E na porta do meu peito, uma saudade do tamanho de um rio...

Olhando os dias o meu coração estendido no varal do amor
Procura o sol do teu olhar enquanto versos surgem a esmo
Naquela aflição enorme, sem tamanho, sem direção e na flor
Do silêncio dessas noites me afogo no mar de mim mesmo...

Entretanto, eu quero um soneto absoluto cheio de realidade
De forma perene na fúria das palavras, sangrando desespero
Se tua paixão deságua no esquecimento ou na dor da saudade

Oh, contempla, amada, o flanco da lívida aurora sem rumo
Do azul destes versos no salmo de louvor que seca os lábios
Clamo, e clamas em mim! Desejos e sol em nossos resumos...

O Sibarita

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Preciosa

Há sempre um caminho que me leva aqui e ali
Nos céus deste poema debruçado no teu olhar
Tão doce que ainda sinto-o devorando a mim
Da garupa de uma lua luzindo no mar de Jauá...

Minha flor, sei apenas do amor correspondido
Eu te sonho enquanto a distância é desespero
Guardo-te, perco-te? Altas noites por ti! Cismo
Nem luas, nem teu rosto e um céu de desejos...

Tão só eu e teus terníssimos suspiros afloram,
Se entregando, deixo correr as horas fugidias
Noites adentro na volúpia do amor que chora,
No peito, o pesar que passa em plena agonia...

Minhas palavras, flor! Tem mãos cariciosas,
Na porta do coração uma enorme saudade
O que me nutre: flui tudo de ti! Ó preciosa
Volta, estou te esperando, à noite, à tarde...

Quero em ti o que de louco corre em mim
Contigo estou de tão longe o querer vertido
Sorvendo a tua seiva na lembrança sem fim
Dos desejos de amor, dos ais comprimidos...

O Sibarita


Sedução

Valha-me Senhor do Bonfim! Essa lua em chamas
Tão chamativa, tão assim penetrando pela janela
Do meu pensamento nesta noite de pura derrama,
No leito, como o diabo gosta, em desejos, eu e ela!

Eu a descortino, minhas mãos passeiam, são auras
Flamejantes sobre o teu corpo queimado do estio
Com tardes de horizontes desfalecidos nas pautas
Das volúpias no vai e vem dos meus dedos macios...

Oh lunar delícia que me alucina no fogo dos beijos
O meu corpo é tudo que brilha, é brasa do teu lume
Fecundando as auroras no bosque do teu vinhedo
Como primavera na relva negra do púbis, teu púbis!

Ah essa libertinagem se revelando sobre a cama
No deleite da minha boca sedenta correndo refém
Por todo o teu corpo aceso nas ardentes chamas
Do bel prazer, semi desfalecida, a deusa diz amém!

Assim, se despe a devassidão deste teu lado intacto
Quando me possuis nas tuas cavalgadas e nos ensejos
O meu sexo tresloucado leva-te a múltiplos espasmos,
Sei, tu és, a única brenha no saibro dos meus desejos...

O meu pensamento ferve, os teus seios, pomos doirados
Que me delicio, são chamas flamejadas como sol em flor,
Na real, fantasias por fantasias, o teu corpo perfumado
Sempre, anda, à noite, em meu leito, molhado de amor...

Ah, eu sonho e decifro cada ponto de ti... Desejoso,
Digo-te que sempre levanto a tua saia lentamente.
No frescor da brisa, bebo da sedução os teus gozos,
Em mim, agora, um mar de posições, pára pensamento...

O Sibarita
31/10/09

Sintonia

Bebendo dos teus olhos, o desfiar lasso da lua
Que, suspensa na luz, inclina à noite estrelada
Pelas frestas de uma fina flor solitária, seminua,
Adormecida à mercê de carícias entrelaçadas...

Atrás da fina flor perfumada, o azul estimula,
Prazerosa derrama de desejos, assim, refeitos
Sobre lençóis de cetim que o sonho dissimula
No teu corpo o oceano moreno do meu peito...

A vida discorre em nós, como fogaréu de entregas
Rasgo-me nos teus sussurros, abuso do vocabulário
Na noite crescente de desejos no azul da tua janela...

Faço-te desmistificações na essência da sintonia fina
Eu, apenas eu. Do meu quarto em toques refratários
Quero correr e estou colado no chão da tua esquina.

O Sibarita
24/10/09

Poesia da noite

Os dias gotejam, gotas de você
gotas dos amores, sentimentos...
A poesia da noite,
rola como um alento:
Uma espécie de simbiose
entre o outono e as flores!
Flores da vida, girassóis do vale,
lírios do campo ao vento
ornamentando nossas noites...
São luzes dos açores
na réstia de uma estrela
em vasos orientais!
O amor nos diz, nos toca
e nos toma de paixão.
Por sentimento
a noite veste-se de desejos
e de carona invade nossos leitos...
Nem mesmo sabemos da solidão
e se existe o corpo solidão...
Espaços em branco, telas cheias
sintonizando, modulando desejos
nas dimensões exatas
seladas nas alquimias das noites!

O Sibarita
15/10/09

Meu Barco...

Chegou o meu barco arribado navegando pelas beiras
Vem por rotas desconhecidas em meio a penumbras.
Na proa, o mastro, o mais alto, uma enorme bandeira
Desfraldada tremeluzindo aos sóis o rosto da musa...

Na popa, outra bandeira içada carregando desejos
Reflete o brilho nos confins do horizonte cortejado
Em que eu me entrego no oceano dos teus beijos
Sem alfândegas, sem fronteiras e sem cadeados!

Mas, pelo sim ou pelo não, dentre, o sol e o luar
Eu me atiro e me jogo, eu salto e pulo por inteiro
Nas tuas águas livres suspirando o azul do mar
Do teu oceano em que adentro em segredo...

E permaneço em ti nas milhas traspassadas.
Marinheiro do amor eu sonho luas da tua vinha
Onde, bate o frescor das tuas brisas sopradas
No céu de fogo fazendo chamas em noite fria...

Bebendo do azul o meu barco aporta em teu porto
Todo perfumado de maresia, brisa e água salgada...
De dia ele tem o fulgor do sol se refletindo absorto,
De noite na abóboda ele tem luas dependuradas...

Suspensas na luz em derramas de caricias insidiosas
Sobre o leito dos dias, nuas, pelo beiral do teu mar
Numa aragem soprando chuvas de pétalas de rosas
Perfumando o horizonte, os teus olhos estavam lá...

O Sibarita
10/10/09

Moça

Ai! Esta réstia de lua rasgando a noite em Jauá
Para tu surgir do orbe nesse poema reluzente
Onde quer que me acicates volúpias de te amar
Nas bordas do querer desta alma irreverente...

Moça, todas as deusas se entregam às vontades!
Junto aqui as minhas às tuas, vem dormir comigo
Nesse chamamento, em ti, a curiosidade deságua.
Sei, virás: é um leito de rosas e lençóis de jasmim...

Beijar-te-ei a boca para que os céus untados
Em provocantes desejos nos aflorem libertos
De puritanismos e sobre a cama entrelaçados
Nossos corpos se entreguem aos descobertos...

Tens os olhos inocentes, inocentes de saberem tudo
É que atrás do teu olhar há outro com fogo libidinoso
Abrindo as asas das tuas fantasias, onde, do teu púbis
Escorrerão cuias de mel no frescor de todos os gozos...

Fia! Entreguemos-nos em plenas chamas desejosas,
A chama escrava andará em nossos corpos sem véus.
Tu, eu e os sussurros em montes de pétalas de rosas
Ao bel-prazer crescente cavalgando dos nossos céus...

Valha-me Deus,
Nosso Senhor do Bonfim!

O Sibarita
04/10;09

Soneto

Ando sobre mares, sobre calhaus e viestes pelas bordas.
Na porta do meu coração percorrem sentidos que almejo
Do aclive da lívida aurora em que os nossos azuis se soldam
Nesse soneto de ti mesmo feito com muita fome e desejos...

Se nas tuas perguntas te pareço, assim, tão misterioso,
Olhei-me a mim e aos meus poemas com se tu olhasses
E não sei, mas, sei... E há pouco tempo, olhe-me de novo
Porque o que eu vi era paixão como se tu me desejasses...

Olhei-te! E há tanto tempo, sossega coração, o amor pousa
Nesse teu olhar tão doce debruçado sobre minhas palavras
Vestidas na chama inapagada, a eterna chama, da lua nova...

Não existem brenhas e há respostas, o que eu vejo não me vê
O que me nutre flui de mim em luz sem mistérios e na ignição
Sinto e ouço o pulsar da paixão no teu coração, ai de mim!

O sibarita
27/09/09

Decifra-me!

Decifra-me,
antes, acendas a tocha da paixão
marcando as asas em mim.
Olhai as cigarras, existe o canto,
música suave e estrelar harmonia.
Coração que se acende,
o canto não se abisma, modula.
Nele, a freqüência, a sintonia...

Decifra-me,
oceano, estou mar!
Uma vela içada e um barco de levar,
marulhas, ondeias, brilhas e me vences.
Arribo a proa e ponho para navegar,
no entanto, abro-te os desejos ao tempo
e o teu coração em pleno silêncio...

Decifra-me,
meu coração é néscio,
mas, tem os dentes de aço
e o sentimento de prata.
Reluzente em luas bravas,
zumbe pelas madrugadas...
Algo nele viaja em fuga, é seta
que mira estrelas em noites andarilhas,
é foice ceifando a réstia de luzes perdidas...
Mas, se quiseres saber, é colibri ao amanhecer!

Decifra-me,
sou jardim florescente,
que olhos retorcidos
olham torto pelo brilho.
Semeando sementes, luas tantas
em céu azul que floresce dos lírios!

Devora-me!
A alma arde volátil em chamas,
está tudo no olhar, a paisagem toda
Conciliando o horizonte no correr das horas
O mar, a aura, os arrecifes, a flor e a harmonia.

Ah! Se o teu coração regasse os céus,
acenderia a noite... Decifraria os dias!

O Sibarita
20/09/09

Poema

Das eras avivadas na memória, o teu nome
É que busco tecê-lo nos desejos desse amor...
Em cada poro do meu corpo estás e consome
Se em cada palmo do teu corpo eu estou...

Doce ira, a metade de ti ao extremo
É selvagem, é luz e fogo do desatino!
Para que não te perca eu te cavalgo
Com espora e rédea sob meu domínio.

Loba de mim, no amor, o coração eleito
Por encarnações afora e na paixão vivida
Ao cio do desejo, tua mão afaga-me o peito
Em um sorriso, um olhar, uma frase perdida...

Eu te debelo com o teu perfume ímpio,
A espora te fere, a rédea te retém e freia
Para soltar-te no deserto do azul limpo
Iluminando o horizonte que ti sombreia...

No aclive das horas no debrum azulado
A lua da aurora nos visita e sai do casulo
Com asas translúcidas do céu encurtado,
Fia! Na cobiça, eu viro sucuri, te engulo...

O Sibarita
18/12/09


Noites...

Por amor deste amor, entre o amor e teus sutis toques
Manda-me notícias tuas, desse tempo, assim, sem mim
E, negue-me o sorriso, os lábios. Negue-me os bosques,
Negue-me auras o ar, os desejos se eu de ti me esqueci.

Eu sei que ávido, o amor, em chamas dos anseios puros
Calcina-me no teu seio de fogo pousado em céu distante.
Mas, ah! Penso em ti, ouço-te e no teu espelho eu surjo
Toco-te a face na vigília da noite em beijos flamejantes...

Ao murmúrio do amor, o teu coração, se erguerá sem véus
E na confluência dos ventos, acendo a lua, ascendo ao céu,
Na glória, esculpo o tempo na aurora sob as orlas dos dias...

Mando-te uma flor, roubo-te um beijo e tudo se diz no infinito
Fica no meu peito, como no amor, o teu nome sem precipícios
Desta estação em que me encontro na solidão das noites frias...

O Sibarita
19/12/09

Céu e Lua.

Ah, essas pétalas de sentimentos nesses instantes
Em que, céu e lua, refletem/defletem nos espelhos...
Brincam, se banham de amor em toques fumegantes
Sob a noite aguçada no perfume de plenos desejos...

A teia da sedução e os momentos orvalham a aurora
Assim, se despe a vida do teu castelo belicoso e dorido.
Mas, o amor, sim, age, toma o coração, o amor é glória
Entoando aleluias nas manhãs nascentes do teu sorriso...

No teu olhar de sol amaranto, âncora acesa do coração
Oh lua, há doçuras e recifes habitados no teu cotidiano
É, do teu rochedo, nascem desejos, violinos e canções...

Louvemos as estações dos uis e ais ecoando aqui e ai
No bálsamo do viver sem o limite, em estado de graça
Em que somos céu e lua no vulcão de mim dentro de ti...

O Sibarita
27/11/09


Dias...

Mas, não sei... Sei? O tempo é bala perdida
E não existe hora certa, existem os dias idos
Lembrando que há vida aqui para ser vivida
Na plenitude sobre o rosto dos precipícios...

Ah, eu falo do homem desconhecido, prosaico
Por entre coral e rochedo num mar de arregaça
Quando a fome, a miséria é o tic-tac dos assaltos
Assim, a vida, escorre nos instantes que se passa...

Não importa o que não se viveu se o tempo é insônia,
É roxo funesto! Ai Deus, tempestade em lágrimas de sal
Na solidão de ásperas clausuras afogando a babilônia...

A morte explode nas balas e fim. Corações em fatias!
O que houve da vida que não se viveu? Na amargura,
Recitemos os desertos, o ódio e os medos dos dias...

O Sibarita
20/11/09

Tsunami

Manda-me dizer da lua cheia no brilho das marés,
Se o amor busca em ti a fúria da paixão revestida
De todos os anseios de que somos viáveis sem viés
É que no brilho da tua face há vida para ser vivida...

Da janela dos teus olhos eu sorvo a seiva do sol
Refaço rumos pelos debruns da tarde em desejo
Depois do amor, depois de macerado pelo amor
Voltarei à tarde, à noite para roubar-te um beijo...

Meu tsunami há tempo tu me levas de roldão, cismo!
Com mel e flor de oásis por trás dos meus desertos,
No infinito, miragens de ti em rútilos versos do imo
Acendem todas as auroras dizimando crepúsculos...

E dos teus espelhos manda-me buscar se tens o dia,
Diz-me no fogo do coração, do amor e bem querer
Se é verdade que sem mim o tempo é de nostalgia
Que revestido de luz em puro desejo volto a te ver...

Eu me entregarei nas tuas chamas ardentes noites adentro,
Mas, escutai as ondas e a aragem. Olhai as tardes e o mar
Que nesta hora o verão floresce, sopra o frescor dos ventos
E dos meus lábios beijados de ti, ouvirá: é lua nova em Jauá !

O Sibarita
08/11/09

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Coisas que acumulamos



Certamente, em algum momento da vida, você já se deu conta de que há um acúmulo de coisas ao seu redor. Quem tem um teto para morar, tem coisas que foram adquiridas ao longo dos anos, e essas coisas dividem o mesmo espaço com você. Por vezes, elas disputam o mesmo espaço com você.

No ano passado, estive em Santa Catarina e lá encontrei um casal de amigos que não via há algum tempo. Eles moram em um apartamento pequeno e agradável, de frente para o mar, mas adquiriram o apartamento de fundos para depositar as coisas que foram colecionando ao longo da vida. Para viver bem, bastaria o primeiro apartamento desentulhado de coisas inúteis. Mas o que fazer com as coisas inúteis que foram compradas, se ainda que inúteis, elas pertencem a quem as adquiriu?

As pessoas se dão conta tardiamente de que são eternamente responsáveis por aquilo que adquirem. Afinal, ninguém é louco para comprar um objeto e depois jogá-lo na rua. Isso seria uma inconsequência condenável. Contudo, levar para casa qualquer coisa sem analisar a sua real utilidade me parece tão insano quanto sair por aí rasgando dinheiro, ou abandonando nas esquinas o que se comprou.

Nem sempre pensei assim.

Na década de 80 havia um consenso generalizado de que morar bem era uma questão de muitos metros quadrados. Tudo exageradamente grande e compartimentado.

Uma boa casa tinha que ter uma sala para as visitas, uma ou duas salas de televisão, uma biblioteca, uma sala de jantar, uma copa separada da cozinha, uma sala toda envidraçada com vista para um jardim, para que se pudesse dizer: este é o jardim de inverno.
Qual seria a função de um jardim de inverno?
Bem, isso não importava muito, desde que se tivesse um jardim de inverno. Um jardim de inverno era um modismo conceptual arquitetônico. Assim, uma casa era concebida em torno da concepção social do momento. Se não houvessem problemas de ordem financeira, também não haveria restrição na hora de dimensionar o espaço físico.

Preencher esse espaço era o segundo momento crucial. Espaços grandes pediam móveis grandes, feitos sob medida para o projeto. Móveis grandes, por sua vez, não podiam ficar vazios. Portanto, o passo seguinte era preencher esses móveis com objetos comprados aleatoriamente. Coisas caras e coisas não tão caras. Coisas atualizadas que logo se tornavam ultrapassadas. Coisas úteis e coisas inúteis. Coisas raras e coisas vulgares. Coisas que uma vez levadas para casa deixavam de ter valor de mercado e se tornavam eternamente nossas.
E na hora de vender essa casa, surgia sempre a grande questão: vende-se uma casa, com móveis e objetos no entorno, ou vende-se móveis e objetos e no entorno vai a casa?
Como mudar para uma casa menor, se na inconsciência da tendência consumista precisamos de um espaço maior para as coisas, do que para nós que somos os donos dessas coisas?

Eu não sei se mudou o mundo, ou se mudou a minha concepção de vida, mas vejo com simpatia a tendencia minimalista e integralizadora dos novos projetos arquitetonicos.
Não vejo sentido em projetos enormes com espaços de pouco uso. Para mim, quanto menos compartimentada for uma casa, melhor. Espaços integrados favorecem o convívio. Uma construçao menor, por sua vez, evita a aquisição de coisas inúteis. Que uma vez adquiridas, serão nossas até que a morte nos separe.
Portanto, mulheres do Brasil, na hora de levar para casa, mais um vaso, pense se terá flores. Na hora de levar para casa mais uma calça jeans, pense no mar de indigo blue que domina a terceira porta do seu armário. Na hora de levar para casa mais um aparelho de jantar, pense quantas vezes no último ano você recebeu convidados para jantar.
E se quiser mesmo adquirir mais um aparelho de jantar, e não tiver com quem inaugurar, convide-me para o evento.
Mesmo que seja uma legítima porcelana chinesa, adquirida no Paraguai, já vou avisando: Eu gosto mesmo é de arroz com feijão, ôvo frito, bife e salada.

Texto: Ana Maria Ribas Bernardelli.
www.anamariaribasbernardelli.com


quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Amor Virtual ou síndrome de Peter Pan e Cinderela?

“Ela quer encontrar o príncipe encantado, casar, ter filhos e ser feliz pra sempre. Ele quer bagunça, festa e foge da responsabilidade...”


Hoje viajei na maionese e resolvi misturar dois assuntos: Amor virtual e síndrome de Peter Pan e de Cinderela. Será que eles têm alguma coisa em comum?

Como não entendo nadica de nada sobre o assunto, achei na net uma entrevista da psicóloga Luziene de Carvalho Caruso que dá a seguinte definição para essa problemática:
“A menina quer ser salva e protegida da inveja da bruxa, da madrasta e o menino quer aventura, descobertas e viver o aqui e o agora. O problema acontece quando a menina cresce e acredita que existe um homem perfeito, que um dia ela vai encontrar e ser feliz pra sempre com ele. É um dos sinais que demonstram que a mulher tem o complexo de Cinderela. Na versão masculina da síndrome, aquele menino vira homem, mas só vive o aqui e o agora. Ele só quer aventuras e tem a necessidade de mostrar o seu poder. Para ele, o relacionamento com uma mulher é uma grande brincadeira.”

No final da matéria, Luziene ainda exclarece:
“É claro que existem exemplos ao contrário. Mulheres que só querem aventura e não querem se ligar a ninguém e homens que sonham em encontrar a princesa”.

Quer viajar na maionese comigo?

A própria realidade mostra que perfeito só existe Deus.
Mas, quem pensa nisso quando navega nesse mundo virtual?

No fundo no fundo, você não sonha com um homem romântico que escreva poesias; inteligente, culto e intelectual que derrame conhecimento pelos poros e através do teclado; sedutor que encante a todos que o conheçam; que goste de tudo que fazemos e escrevemos; que nos elogiem e nos paquere; que apareça do além só porque nos viu on-line?

E com injeção na testa, quem sonha?

E que homem não deseja uma mulher sensual, sexy, sedutora? Uma mulher que os veja como o seu príncipe encantado e não reclame de nada? E, é claro, façam sexo criativo e livremente, 24 horas por dia? Sem nada em troca?

Agüentar TPM, quem quer?

Claro que há exceções entre os homens e mulheres, mas esse texto é para a maioria.
Em comum, todos têm suas fantasias e a Internet acabou virando um canal para sua realização.

O alarmante tem sido os casos de relacionamentos reais desfeitos por causa de envolvimentos virtuais. Sejam eles concretizados ou não.

O que não é novidade já que vários livros e filmes falam sobre esse tema. Mas, que fascínio o desconhecido e provável nos causa!

Tirando os impulsivos e tresloucados, quem largaria sua vida profissional, sua casa, sua família (excluo aqui cônjuges e afins), sua cidade, seu estado ou seu país para se aventurar a viver com um amor virtual?

Aposto que você pode me citar uma dúzia de casais que se conheceram na net e permanecem juntos. Em contrapartida conheço outros tantos que estão se separando, porque depois da net o “casamento” perdeu o encanto.
“Sabe, não nos completamos mais!”; “Ele não me entende, não me vê.”; “Nossa, ela não gosta de sexo”.
Isso, sem falar nos casos de estupros, pedofilia e de mulheres, sentimentalmente destroçadas, que voltam de mala e cuia de suas aventuras amorosas.

Se me disser que é um desses casais “virtualmente apaixonados” e que até já foi conhecer seu amado(a) pessoalmente. Então te pergunto: vocês estão juntos, ou é um amor casual?
Tipo ponte aérea: quando dá um vai à cidade do outro. Nada muito sério. Afinal, você já teve algo sério e agora quer “liberdade”, e variar é preciso.

Mas, se você não for uma dessas raras pessoas “bem resolvidas”, ou cliente de “carteirinha” de um divã - quem sabe até da doutora Luziene de Carvalho -, você acha mesmo que vai aturar essa situação por muito tempo?

Quem gosta de verdade quer estar junto, compartilhar a vida e os momentos, tem ciúmes, não quer ser mais um(a), fica inseguro, quer um abraço num dia de TPM, um ombro para chorar, olhar olho no olho, enfim, essas bobagens todas que você conhece e está evitando.

Hummm!
Essa foi a razão que te levou a optar por relacionamentos virtuais? Individualidade?
Não!
É por falta de “disponíveis” no mundo?

Mas, se você passar a maior parte do seu tempo aí na net, como alguém pode te encontrar?

Está difícil sair por causa da violência, falta de grana, falta de confiança, etc, etc....
Entendo.
Eu tenho os mesmos medos.
Mas, ainda acho que não vale a pena trocar a realidade por uma quimera.

Porquê, meu amigo, Amor é Amor e pronto.
Isso inclui todas as mazelas do dia-a-dia.

Então, conheça alguém, apaixone-se, assuma seu amor, casem-se, vivam juntos, sei lá.
Mas viva de verdade.

Mas se for só pra escrever que ama e chamar alguém de amor.
Desista! Cresça!
Exclua os contatos, apague os recados, delete os e-mails.

No meu caso, esqueça.
Estou fora!

Puxa, ainda vou ser psicóloga!
O que você acha?

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk




leia a matéria na íntegra: http://www.acessa.com/mulher/arquivo/versao/2006/02/03-sindrome/



Texto: Etelvina de Oliveira
Publicado no recanto das Letras em 14/01/09
Código do texto: T1384271

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O eco do silêncio

O amor que nos une é paz e calmaria,
Mas é também a força viva do vulcão,
Tanto nos deixa a alma envolta em mansidão,
Quanto nos eletriza e queima noite e dia.

E, ao fixar em nossos seres, a moradia
Que constroi, zeloso, em cada coração,
Ele eterniza a chama ardente da paixão
Que nos preenche a vida e enfeita a poesia.

Como se fora a voz que, em altos brados,
vence o espaço infindo e nele asperge a alegria
Cantada em versos verdadeiros e solenes.

Pois suas marcas,de tal modo são perenes,
Qu'inda que cale, por instantes, a magia
Do seu cantar,ressoa o ecoso silêncio.

Texto: Mario Roberto Guimarães

Publicado no Recanto das Letras em 12/01/2009
Código do Texto:T1380119

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Para matar as saudades dos juizes

Pasmem!
No Brasil existia justiça!
Melhor ainda, a LEI era cumprida.

Clique na foto
E não é que conseguiram "meter medo até nos homens"!
Deve ser por isso que hoje não reclamamos de nada mais.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O primeiro soutien.

A escola era perto, tão perto que se faltasse à aula, de dentro de casa ouviria a voz do professor.

O povoado se confundia com o silêncio, no dia que acabava de nascer.

Ainda deitada na cama, o pensamento aceso era a sua urgência de vida. Paralelas, as vidas, a de dentro, e a de fora. Fechava os olhos e num instante ganhava asas, como se flutuasse no ar, para no instante seguinte, obrigar-se a regressar.

Era hora de acordar!

Que vestido usaria hoje para disfarçar o corpo que estuava debaixo dos botões? Ai como ela queria livrar-se daquele aperto.

Recusara o soutien que a mãe lhe trouxera da cidade, num misto de desejo e vergonha, pois nele vira a infância repentinamente ameaçada. Porque usar um soutien- justificava- usar um soutien só podia ser tão triste quanto deixar de correr pelos campos, recolhendo as flores das paineiras e as abobrinhas que cresciam sozinhas. Como ela crescera.

Usar um soutien só podia ser tão penoso quanto observar Dona Mariana que vinha toda semana à sua casa, trazer para a mãe os figos verdes e maduros.

Era-lhe muito penosa a vinda de Dona Mariana, o peito caido sobre a cesta de figos maduros, um despudor de nem-te-ligo, na hora de amamentar o filho bezerrão bem diante do seu espanto.

Jamais, jamais! - Ela pensava.

A mãe lhe estendera a peça com humildade, quase com devoção, adivinhando nos seus olhos a vontade:
-Use, minha filha, a mãe comprou para você. Vista, é seu.
- Não quero, mãe.
- Usa bobinha, vai te deixar mais confortável.
- Não quero, mãe, já disse. Não quero- impacientou-se ainda mais porque a palavra “seio” lhe lembrava a vaca com as suas vaquinhas, a porca com as suas porquinhas, a cachorra com as suas cachorrinhas, Dona Mariana com seu bezerrinho, e o susto que sentia toda tarde, na hora do banho, quando se lembrava de que estava crescendo como crescem os mamões.

Era sempre muito tarde quando finalmente se vestia. De casa para a escola, tão perto como um pensamento. Se não fosse, poderia jurar que tinha ido.

À frente da escola, o canteiro com margaridas. Dentro da sala, sobre a mesa do professor, um vaso com uma margarida.

O professor dizendo com voz grave: - Pois façam, então. A isso se chama cópia do natural - ele explicava.

A voz no fundo da sala era dela:
-professor, posso desenhar um vaso com uma rosa vermelha, assim bem vermelho carmim, em vez de um vaso com uma margarida branca e sem graça? Não falava por mal, falava por que acabara de descobrir o pensamento.

Ele estava já distraido e nem parecera ouvir, mas ela repetiu a pergunta e ao repetir, toda a sala ficou encantada, porque se ela pudesse fazer uma rosa em vez de uma margarida, então todos fariam uma rosa em vez de uma margarida.

- Seria isto uma rosa ou uma margarida? – ele exibia a margarida de duro talo, olhando fixo para ela.
E antes que ela respondesse, arrematou secamente:
- limite-se a copiar o que está à sua frente. Isto aqui é cópia do natural, não cópia de alguma coisa da sua cabeça.

Pensou rápido: à minha frente está um professor branco e sem graça como uma margarida desfolhada.

Pensou em desenhá-lo como um vaso, com margaridas brotando-lhe dos olhos, do nariz , da boca e de todos os redondos orifícios.

Mas obediente, copiou, porque a sua rebeldia não era contra as ordens e os decretos. Era contra os soutiens.

Texto: Ana Ribas
Publicado no Recanto das Letras em 13/08/2008
Código do texto: T1127078