quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Quem matou Eloá?

Hoje é fácil fazer divagações sobre o acontecido. Cada um terá uma versão mais esclarecedora e real. Uns dirão que a culpa foi dos policiais, outros que foi do jovem apaixonado.
Independentemente do resultado da ação, sempre culparemos alguém.
Não sou diferente.
Lembrei de um provérbio chinês que diz: "Quer a faca caia no melão, ou o melão na faca, o melão vai sofrer".
Tenho que admitir: eu ajudei a matar a menina.
Como?
Fiquei enfrente à TV cujas emissoras, deslealmente, brigam por audiência.
Isso já se tornou lugar comum no nosso dia-a-dia: dar audiência para esse tipo de jornalismo sensacionalista que banaliza a vida de todo mundo.
Analisando friamente esse caso de Santo André/SP, é impossível se chegar a bom termo em uma negociação, na qual várias pessoas falam com o “bandido”.
Lindembergue, um jovem de 22 anos, trabalhador, apaixonado e desequilibrado, nunca imaginou, em sua curta vida, que ganharia tanta notoriedade de uma hora para outra.
Todas as emissoras entravam ao vivo para mostrar a cara de cada policial e a movimentação “sigilosa” das equipes de resgate, enquanto seus jornalistas se desdobravam para conseguir o furo jornalístico de falar com o rapaz.
Para a satisfação dos telespectadores - sádicos diga-se de passagem -, ele deu entrevistas a Globo, a Record, Rede TV! e a Gazeta – até onde soube.
Quando a apresentadora Ana Maria Braga colocou um telefone exclusivo na tela para que o jovem entrasse em contato com ela fiquei comovida. Dia-a-dia ela mandava recados emocionados para ele libertar as meninas e se entregar.
Para minha surpresa, ontem, eu vi essa mesma Ana Maria recriminando a polícia por não ter cortado os telefones e a TV da casa de Eloá.
Mas como?
Eu e ela entravamos naquele apartamento todos os dias.
Não fisicamente, mas assistindo passo-a-passo cada ação da polícia, dos familiares e da população vizinha.
Eu fiz o mesmo no caso dos Nardoni, da criança que morreu na creche, nos tiroteios no Rio de Janeiro e em todas as transferências de presos perigosos.
Só para lembrar: esses presos, quando são transferidos, contam com um planejamento de sigilo para que não se saiba para onde vão.
Ledo engano. Até os presos “incomunicáveis” são os primeiros a saber de tudo através das equipes de jornalismo.
Nossa imprensa chega ao cúmulo de mostrar nos telejornais cada detalhe da ação dos policias - onde farão blitz surpresa, investigações criminais e etc – ou dos bandidos, em caso de assalto ou seqüestro.
Acho que até meu sobrinho neto de 7 anos é capaz de reproduzir as cenas de tão realistas e bem explicadas.
Isso quando eles não trazem especialistas para nos ensinar mais detalhadamente porque isso ou aquilo não funciona e quais seriam as alternativas para se ter sucesso.
Para quem gosta de internet, segundo informações de uma jovem estudante de jornalismo, agora podemos contar com sites que, além das notícias, ainda oferecem infográficos de toda ação descrita na matéria.
Com um simples clicar no mouse, é possível reproduzir as cenas e até a trajetória das balas.
Parece videogame.
Um prato cheio para os masoquistas.
Para não ser injusta não direi que a LIBERDADE DE IMPRENSA matou a menina.
Pegarei só a parte que me cabe.
E você?
O que acha dessa nova modalidade de arena?
Quem lançaremos aos leões? Os policiais? O pai da menina? O governo? O atirador de elite?
Pior ainda, vamos, simplesmente, lavar nossas mãos como Pôncio Pilatos e aguardar mais um circo armado pelos meios de comunicação com nossa conivência.

Cruzes! Pare o mundo que eu quero descer.



Texto: Etelvina de Oliveira

5 comentários:

anderson eduardo disse...

O único covarde nesta historia é o lindemberg e ponto... a tv tenta de tudo para ganhar audiência.... abração e tudo de bom

Etelvina disse...

Oi, Anderson

Concordo, mas jamais saberemos qual teria sido o resultado das negociações se a IMPRENSA não atrapalhasse tanto.


beijos e boa quinta pra ti

Etelvina disse...

Oi, Sibarita

Sou contra essa briga por audiência a qualquer custo, principalmente, quando está em jogo vidas humanas.


Fiquei feliz com sua visita.
Volte sempre.

beijo

Deusa Odoyá disse...

Amiga Etelvina.
Não quero nem comentar.
A imprensa só corre atrás de faturamento e não se importa nem um pouco, com o que acontece com vidas humanas.
Triste e trágico, as consequências de um amor , cheio de traumas e mentiras.
Consequência de jovens mal orientados na vida.
Abraços e pesames a família da menina.
Beijos, amiga.
Durma Bem.

Regina Coeli.

Uma aprendiz disse...

Regina

Esse caso nos chocou, né?

Tão novonhos.

Tenho pena das mães.



beijos