terça-feira, 4 de novembro de 2008

Epílogos

Que falta nesta cidade?......................Verdade.
Que mais por sua desonra?.......................Honra.
Falta mais que se lhe ponha.......................Vergonha.
O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade, onde falta
Verdade, Honra, Vergonha.

Quem a pôs neste socrócio?..........Negócio
Quem causa tal perdição?.............Ambição
E o maior desta loucura?...............Usura. Notável desventura
De um povo néscio, e sandeu,
Que não sabe, que o perdeu
Negócio, Ambição, Usura.

E que justiça a resguarda?.............Bastarda
É grátis distribuída?.............Vendida
Que tem, que a todos assusta?.......Injusta.
Valha-nos Deus, o que custa,
O que El-Rei nos dá de graça,
Que anda a justiça na praça Bastarda, Vendida, Injusta.

A Câmara não acode?...................Não pode Pois não tem todo o poder?...........Não quer
É que o governo a convence?........Não vence.
Que haverá que tal pense,
Que uma Câmara tão nobre
Por ver-se mísera, e pobre
Não pode, não quer, não vence.


texto: Gregorio de Matos

domingo, 2 de novembro de 2008

Tarde de Outuno

Foi numa tarde assim. O vento soluçava
Agoirando do inverno a lúgubre hospedagem
No céu pálido, branco, há muito não rodava
Do sol a luminosa e rútila equipagem.

A derradeira flor, no jardim desfolhava
Sua pétalas. Era inóspita a paisagem
Em tudo uma tristeza imorredoira errava
Meu Deus! Que dolorosa e tristonha miragem!

E eu, sonhando, revia em meu dourado sonho,
O meu viver tranqüilo, o meu viver risonho,
Tendo junto de mim o teu amor calmo e terno.

Reinava um frio intenso...e tu partiste, envolto
Num último sorriso a murmurar "eu volto"
E não voltaste mais! Voltou somente o inverno...


texto: Yde Schloenbach Blumenschein

sábado, 1 de novembro de 2008

Lágrimas Ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que rí e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi outras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,

Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Texto: Florbela Espanca

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Filha do Rei

“De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho,
também herdeiro por Deus.” Gálatas 4:7


Uma das grandes vantagens que a internet oferece é a possibilidade de conhecer pessoas do mundo inteiro. Sem sair do seu PC, você fala on-line com parentes ou amigos; localiza pessoas; visita outros países e, agora, tem seus poemas e textos lidos por amigos virtuais do Recanto das Letras, por exemplo.
Eu gosto é de conversar. Um dia desses, contei para uma amiga de Salvador que meu pai era baiano.
Para quê fiz isso?
Ela me encheu de perguntas do tipo: é natural de qual cidade? Qual o sobrenome da família dele? Onde moram seus parentes aqui? Tem algum tio ou primo conhecido na Bahia?
Como não soube responder a nenhuma das perguntas, percebi que nunca liguei para esses detalhes.
Minha amiga também percebeu e arrematou gargalhando: “E se você for herdeira de algum parente rico?”.
Encerramos o papo e fiquei pensando nisso: genealogia.
Lembrei-me da primeira vez que li a Bíblia desde o início. Foi tudo bem até chegar o Primeiro Livro de Crônicas – a seção das genealogias da Bíblia. A listagem não ocupa apenas uma página ou um capítulo – cobre oito capítulos! Devo confessar que esse livro do Velho Testamento foi passado por alto naquela época.
Achei tudo confuso e complicado.
Mas, e a minha história?
Sou filha do segundo casamento do meu pai e não conheci meus avós paternos. O pai da minha mãe morreu quando ela era pequena, e a mãe dela quando eu já tinha 18 anos. Minha mãe nasceu em Minas e foi criada no Paraná, até vir para São Paulo. Tem parentes espalhados nos dois estados, muitos eu nunca conheci.
Até mesmo os parentes que moram em São Paulo é difícil de se encontrar, fora dos funerais.
Sério! A vida é corrida em Sampa. Todo mundo trabalha nessa cidade, isso sem falar na distância de um bairro ao outro.
Acabamos nos afastando, sem perceber.
Posso dizer que só meus irmãos e eu - com suas respectivas famílias - permanecemos mais próximos e ligados a minha mãe.
Ainda bem que minha irmã mais velha, a Belkis, guarda um livro com toda a história da família “Teixeira de Oliveira”.
Nosso primo Marcos, filho da tia Edite, passou anos mergulhado na nossa linhagem. Ele copilou seus achados num livro que, depois de publicá-lo, presenteou todos os primogênitos da família.
Depois desse papo sobre genealogia na Internet, eu li o volume com interesse e fiquei orgulhosa de nossa herança.
Somente quando você conhece suas raízes, bem como as lutas enfrentadas por seus antepassados, é que as histórias de família adquirem significado.
Não encontrei coisa alguma que indicasse relação com a “realeza”, mas cada um de nós pode alegar pertencer à família do Rei do Universo.
Não há parentesco melhor que alguém possa desejar.
Ao estudar o “Livro de Histórias de Deus”, podemos obter conhecimento e instrução sobre como nos tornarmos herdeiros do Seu reino.
Davi escreveu no Salmo 127-3 que “herança do Senhor são os filhos”.
Que maravilha!
Que Deus nos dê graça para aprender a defender e honrar o seu nome como legítimos herdeiros dele.


Boa noite!


Texto: Etelvina de Oliveira

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Penso em você

A cada instante e minutos de minha vida
Sonho com o dia que eu possa tê-lo.
Querendo estar nos teus braços agora
Pensando em te fazer feliz...
Te amo, só sei dizer isso, te amo...
Sonho com teu amor, teus beijos e teu corpo
Aguçando os meus desejos.
Mesmo não o tendo perto de mim
Sinto a tua presença tão real.
Nem mesmo a distância entre nós
é empecilho, pois, o sinto junto a mim.
Cada pedaço de tua alma está dentro do meu ser,
Será que a espera é inútil ou quem sabe um dia
Podemos nos encontrar para nos completar?
Enquanto isso, grito o teu nome bem alto
Para que as estrelas possam escutar,
Esse lamento o traz para junto de mim...


Texto: Regina Coeli

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Dieta Espiritual


“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e
tome cada dia a sua cruz, e siga-me." (Lucas 9 : 23)

Segunda-feira, dia de se começar dietas.
Eu, como milhares de pessoas, vivo em guerra com a balança.
Já experimentei a dieta da sopa, dos carboidratos, do abacaxi, da Lua, dos líquidos, o sopão da USP e, por um tempo, freqüentei o “Meta Real”.
Com todas elas obtive o sucesso equivalente à minha motivação inicial. Quando chegava na fase da estabilidade – quando a balança já não se move tão rápido – ou quando não conseguia o objetivo que estabelecia a mim mesma, pronto. Desanimava e desistia. Queria resultados rápidos.
Paciência nunca foi meu forte.
Conclusão: vivo no efeito sanfona.
Não que eu queira ser uma modelo, mas se eu emagrecer será ótimo. Se eu emagrecer tanto quanto os médicos me aconselham, melhor ainda.
Para isso teria que ser, no mínimo, obediente aos mandamentos dos especialistas: fechar a boca e se controlar.
Claro que tenho medo das enfermidades que o sedentarismo e o excesso de peso acarretam, como a diabetes, pressão alta, colesterol alto e o risco de um AVC. Mas no final das contas sempre achamos que isso só acontece com os outros.
O que tem de mal em um doce aqui, outro ali, um cigarrinho, uma bebida, ficar esticado no sofá vendo TV, ir de carro até a esquina?
Se não faço mal a ninguém, só a mim mesma!
E, aparentemente, tudo isso é tão bom.
No meu caso, e de muita gente, como posso chegar ao meu objetivo se não quero abrir mão de algumas coisas?
Isso me fez lembrar da minha vida espiritual.
Quando você decide seguir a Cristo, precisa deixar muitas coisas que te parecem boas, mas, que na verdade, não são.
Por isso, existem diferenças entre aqueles que são chamados para essa caminhada. Espiritualmente, Deus trabalha em cada um de uma maneira.
Jesus cuida de nós individualmente. Somos especiais e únicos.
De uma maneira geral, é comum achar que a maioria dos evangélicos é fanática e radical e que só uma pequena parte ainda é “normal”, principalmente, na visão daqueles que ainda não são espirituais.
A meu ver, assim como nas dietas, cada um conhece a si próprio e sabe como agir para não sair dos seus limites.
No novo testamento encontramos nas cartas de Paulo a seguinte passagem:
“Quem és tu, que julgas o servo alheio? Para seu próprio Senhor ele está em pé ou cai; mas estará firme; porque poderoso é Deus para o firmar. Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio ânimo.” (Romanos 14.4-5)

Uma coisa eu sei, as chances dos que se esforçam receberem a medalha no final da corrida é maior do que o ensejo daqueles que vacilam.
Se olharmos para as dificuldades e as lutas, piorou. Temos de ter um objetivo e caminhar para ele, às vezes, com pouca fé, mas com persistência.
Graças a Deus, sempre que preciso encontro um estímulo. No Recanto das Letras, por exemplo, encontrei a missionária e escritora Ana Maria Ribas que, através de seus textos, me abençoa todos os dias com seu cardápio espiritual.
Quanto ao físico, paro o texto aqui, agora vou fazer caminhada.

Até amanhã!


Texto: Etelvina de Oliveira





sábado, 25 de outubro de 2008

Lembranças

Que eu conheça a tristeza
pois só assim saberei quando encontrar
a verdadeira felicidade.

Que a mentira seja usada contra mim
para que possa guardar para sempre
o valor da palavra "verdade".

Que eu ouça sua voz ao menos uma
última vez pois ela será como música
companheira de minhas noites em claro,
sofrendo a infelicidade.

Que sinta seu cheiro novamente
para me embriagar em lembranças
felizes recordar de quando éramos
únicos, singularidade.

Que possa tocá-la novamente
sentir sua pele, seu calor
e mais uma vez me acalmar com
carinho e tranqüilidade.

Que possa provar ao menos um
último beijo aquecer meu coração
agora solitário e guardar em minha
alma o gosto do amor,
pela eternidade

texto: Rafael Simões Frieling

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Quem matou Eloá?

Hoje é fácil fazer divagações sobre o acontecido. Cada um terá uma versão mais esclarecedora e real. Uns dirão que a culpa foi dos policiais, outros que foi do jovem apaixonado.
Independentemente do resultado da ação, sempre culparemos alguém.
Não sou diferente.
Lembrei de um provérbio chinês que diz: "Quer a faca caia no melão, ou o melão na faca, o melão vai sofrer".
Tenho que admitir: eu ajudei a matar a menina.
Como?
Fiquei enfrente à TV cujas emissoras, deslealmente, brigam por audiência.
Isso já se tornou lugar comum no nosso dia-a-dia: dar audiência para esse tipo de jornalismo sensacionalista que banaliza a vida de todo mundo.
Analisando friamente esse caso de Santo André/SP, é impossível se chegar a bom termo em uma negociação, na qual várias pessoas falam com o “bandido”.
Lindembergue, um jovem de 22 anos, trabalhador, apaixonado e desequilibrado, nunca imaginou, em sua curta vida, que ganharia tanta notoriedade de uma hora para outra.
Todas as emissoras entravam ao vivo para mostrar a cara de cada policial e a movimentação “sigilosa” das equipes de resgate, enquanto seus jornalistas se desdobravam para conseguir o furo jornalístico de falar com o rapaz.
Para a satisfação dos telespectadores - sádicos diga-se de passagem -, ele deu entrevistas a Globo, a Record, Rede TV! e a Gazeta – até onde soube.
Quando a apresentadora Ana Maria Braga colocou um telefone exclusivo na tela para que o jovem entrasse em contato com ela fiquei comovida. Dia-a-dia ela mandava recados emocionados para ele libertar as meninas e se entregar.
Para minha surpresa, ontem, eu vi essa mesma Ana Maria recriminando a polícia por não ter cortado os telefones e a TV da casa de Eloá.
Mas como?
Eu e ela entravamos naquele apartamento todos os dias.
Não fisicamente, mas assistindo passo-a-passo cada ação da polícia, dos familiares e da população vizinha.
Eu fiz o mesmo no caso dos Nardoni, da criança que morreu na creche, nos tiroteios no Rio de Janeiro e em todas as transferências de presos perigosos.
Só para lembrar: esses presos, quando são transferidos, contam com um planejamento de sigilo para que não se saiba para onde vão.
Ledo engano. Até os presos “incomunicáveis” são os primeiros a saber de tudo através das equipes de jornalismo.
Nossa imprensa chega ao cúmulo de mostrar nos telejornais cada detalhe da ação dos policias - onde farão blitz surpresa, investigações criminais e etc – ou dos bandidos, em caso de assalto ou seqüestro.
Acho que até meu sobrinho neto de 7 anos é capaz de reproduzir as cenas de tão realistas e bem explicadas.
Isso quando eles não trazem especialistas para nos ensinar mais detalhadamente porque isso ou aquilo não funciona e quais seriam as alternativas para se ter sucesso.
Para quem gosta de internet, segundo informações de uma jovem estudante de jornalismo, agora podemos contar com sites que, além das notícias, ainda oferecem infográficos de toda ação descrita na matéria.
Com um simples clicar no mouse, é possível reproduzir as cenas e até a trajetória das balas.
Parece videogame.
Um prato cheio para os masoquistas.
Para não ser injusta não direi que a LIBERDADE DE IMPRENSA matou a menina.
Pegarei só a parte que me cabe.
E você?
O que acha dessa nova modalidade de arena?
Quem lançaremos aos leões? Os policiais? O pai da menina? O governo? O atirador de elite?
Pior ainda, vamos, simplesmente, lavar nossas mãos como Pôncio Pilatos e aguardar mais um circo armado pelos meios de comunicação com nossa conivência.

Cruzes! Pare o mundo que eu quero descer.



Texto: Etelvina de Oliveira

sábado, 18 de outubro de 2008

A Arte de Amar

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.


texto: Manuel Bandeira

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Ora (direis) ouvir estrelas!

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."


Texto: Olavo Bilac

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Em mim Também

Em mim também, que descuidado vistes,
Encantado e aumentando o próprio encanto,
Tereis notado que outras cousas canto
Muito diversas das que outrora ouvistes.

Mas amastes, sem dúvida... Portanto,
Meditai nas tristezas que sentistes:
Que eu, por mim, não conheço cousas tristes,
Que mais aflijam, que torturem tanto.

Quem ama inventa as penas em que vive;
E, em lugar de acalmar as penas, antes
Busca novo pesar com que as avive.

Pois sabei que é por isso que assim ando:
Que é dos loucos somente e dos amantes
Na maior alegria andar chorando.


Texto: Olavo Bilac

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
alomoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão
de vida ou morte _
será arte?


texto: Ferreira Gullar

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Canção da Vez Primeira

Guardei-me para ti como um segredo
que eu mesma não desvendei:
há notas na minha viola
que não toquei,
há praias na minha vida
que não andei.

É preciso que tomes
além do riso e do olhar
naquilo que não conheço
e adivinhei;
é preciso que me cantes
a canção que serei
e me cries com teu gesto
que nem sonhei.


texto: Lya Luft

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A você meu amor!

Você trouxe o sol para minha vida,
A luz para meus olhos e o calor para o meu ser.
À você amor, dedico essa poesia,
Pois eu sei que se me perder nas estradas da vida,
Sua mão me guiará a um lugar seguro.
Meu amor é um sentimento como uma flor que brota,
Sincero, maduro e guardado a sete chaves em meu coração.
Somos duas luzes acesas bem juntinhas,
Unidas e presas numa mágica atração.
Você amor...
Chegou assim, como um vento
Trazendo um sopro de esperança
Na luz do meu viver.
Num momento mágico da minha vida
Você me envolveu em teu abraço,
Nos braços que nunca tive.
Encontrei os seus carinhos
Você para minha vida
Para dentro do meu ser...
Ah, me reencontrei!


texto: Regina Coeli (deusaodoya.blogspot.com)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Paixão

Enfim,

me rendo aos seus encantos.

Vencida.

Entregue.

Apaixonada.




texto: etelvina de oliveira

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Matem as Rosas

Lançadas ao solo sementes esperam um toque vivificante.
Caem sobre elas, então, as pequenas gotas de água. Passam-se dias, muitos entre um regar e outro. Surge desse meio tão singelo um botão de rosa. Uma rosa que não é rosa, mas vermelha. Flor tão significativa, tão magna na sua representação amorosa que, em vez de ser chamada de rosa, deveria ser definitivamente nomeada: amor.

E que os seres que sentem tal sentimento tão contraditório e incerto possam enviar para aqueles estimam buquês de amor. E, de preferência, buquês de amores vermelhos. Não que os amores brancos, dourados ou róseos sejam menos intensos. Mas os amores vermelhos refletem mais vivamente a cor consagrada da paixão. Os grandes símbolos da doação, do despojar, da entrega e do amor possuem tal cor como estandarte. Dizem que o amor vem do coração. Nenhuma criança pintaria esse órgão de outra cor, a não ser de vermelho. Dizem que o homem que mais amou a humanidade, entregando-se em cruz, usava um manto vermelho. Dizem que o sangue nos mantém vivos, e que, para amar, precisamos viver. Bom é saber que o sangue é vermelho. Mas para amar, nem sempre é preciso estar vivo... muitos amam mesmo depois de mortos... na verdade, alguns nem sabem que já estão mortos... outros já sabem, mas teimam em continuar vivos...

Apanhado, então, daquele solo o frágil botão de rosa, ou melhor, o delicado botão de amor. Com bastante cuidado para não se ferir no espinho, deve ser envolvido com um lenço branco umedecido de perfume. De todos os botões de rosas já vistos, esse seria o mais encantador e o maior reflexo da verdade amadorista.

Amador. Na verdade, essa palavra não é o contrário de profissional. Amador é aquele que ama. E se ser amador não é ser profissional, que eu seja um perpétuo amador, inexperiente, pois prefiro amar a ser um doutor das palavras ou de quaisquer outras lavras.

Especial vida vegetal, pois emergiu ali, solitária, em um canteiro espremido no fundo do quintal. E mais especial ainda porque foi arrancada da terra para repousar em seus braços. Acolha, portanto, essa serena rosa vermelha amorosa embebida de perfume em suas mãos delicadas. Não se preocupe com os espinhos, pois estão bem protegidos abaixo do pano branco. Eu lhe daria algo que por ventura lhe machucasse? Se lhe desse um cacto, colocaria em cada uma das pontas dos finos espinhos um pequeno algodão para amaciar sua pele. Não é necessário arrancar os espinhos das rosas, basta saber como tocá-las.

E que você possa sorrir ao ver essa rosa e que seu coração possa palpitar mais forte quando tocá-la. E que suas narinas se deleitem ao sentirem o perfume da flor, mesclado com o meu perfume. E possa balbuciar palavras encantadoras de sua boca linda. E que eu, ao ouvi-las, sinta-me amado e me torne um lavrador. E que eu possa sempre lavrar a dor que existe dentro de mim e cultivar flores, rosas vermelhas em meu jardim.

Mas, cruel vida, cruel fauna e flora. Quando você recebeu a flor em suas mãos, rejeitou-a por ser apenas uma. E não a segurando delicadamente, apertou o lenço e se feriu nos espinhos. Desconhecendo a razão de tanta indiferença ainda lançou frases fatais, dizendo que tal flor murcharia, morreria no dia seguinte...

São nesses momentos que muitos seres morrem... e alguns tentam continuar vivos ou simplesmente ignoram o falecimento... Nem todos sabem o que é amar; e que amar é simples, frágil, espinhoso, perfumado, gentil, carinhoso, atencioso, amigável e único como aquela rosa...

Sei que é uma única rosa. Sei também que ela vai murchar e vai morrer. Mas qual sentido ela teria para mim, se continuasse única e viva naquele canteiro. Então, que essa única rosa vestida com um perfumado tecido branco murche, que ela morra... mas que ela possa murchar e morrer belissimamente... não queria ver esse amor morrer em um monte de terra... que essa rosa possa murchar, que essa rosa possa morrer... mas que murche e morra em seus braços... E que você possa mostrar a essa rosa que sua morte é o resplandecer do amor que falta em muitas vidas... E se você considerar a própria rosa o amor, aprecie intensamente essa rosa, esse amor; pois, mesmo que você não queira, essa rosa vai murchar e morrer. A única coisa que lhe resta, então, é adubar e regar constantemente e medidamente esse amor...

Cordialmente
Márcio Adriano


texto: Crônica publicada no jornal “O Norte”, dia 17 de setembro de 2008
de Márcio Adriano Moraes -Escritor e professor do Colégio Indyue do Projeto de
Educação Popular

domingo, 31 de agosto de 2008

Amor - Álvares de Azevedo

Amemos!
Quero de amor
Viver no teu coração!

Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu'alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!

Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!

Quero viver d'esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,
Minha'alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!

E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Despedida - Cecilia Meirelles

Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces ?
- me perguntarão.
- Por não Ter palavras, por não ter imagem.

Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras ?
Tudo.
Que desejas ?
Nada.

Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação ...
Talvez eu morra antes do horizonte.

Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão !
Estandarte triste de uma estranha guerra ... )

Quero solidão.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Saber Viver

Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura...
Enquanto durar


Texto: Cora Coralina

sábado, 23 de agosto de 2008

Vida virtual

Sempre fui fiel a minha linda e maravilhosa máquina de datilografar.
Mas os tempos mudaram.
Há poucos anos atrás – poucos mesmo -, me tornei uma mulher moderna. Antenada com o mundo da informática.
Aprendi ligar o micro sem medo e fuçar em alguns sites sem perder nadinha dos arquivos das crianças.
Como prêmio eles fizeram meu endereço de orkut e MSN com a simples condição de não incluí-los entre meus amigos.
- Mãe, não é por nada não, só não queremos receber aquelas mensagens de “velhos”, tipo poesias enormes, cartões e vídeos bregas.
- Ãhã - aceito como mãe obediente.
Que delicia!
Agora tinha meu horário de total inclusão com o mundo on-line.
Inclui na minha rotina envio de e-mails, postagem de recados no orkut, visitas a blogs de amigos e pesquisas na net.
E não é que nessas minhas andanças descobri as salas de bate papo?
Meus filhos deram boas gargalhadas imaginando como seria o papo de “gente da minha idade” em uma sala. Aliás, eles acham o “fim” nossa geração na Internet.
Eles nem imaginam como os adultos são capazes de remoçar em frente a um computador.
A começar pelos nicks, alguns até com um certo saudosismo adolescente que valorizam algumas partes do corpo ou preferências.
Outros, que exageram ou diminuem dotes físicos e outros tantos que até são engraçadinhos.
A principio o papo não varia muito, mais parece um cadastro do SENSO:
- Qual sua idade?
- Mora onde?
- Casada ou solteira?
- Tem filhos?
- Trabalha?
- O quê faz da vida?
- Como você é?
- Tem cam? MSN?
E a mais bombástica:
- O quê você procura na net?

Nesta parte é preciso parar e refletir.
O lógico seria um bom BATE PAPO - como diz o nome do lugar onde você está -, mas quem sabe: passar o tempo, conhecer pessoas legais e etc.
Enfim, dependendo dessa resposta pode acabar seu papo na hora.
Talvez o segredo esteja nos etc. Quem sabe?
O certo é que tem muita gente legal com tempo livre, ou, simplesmente, que gostam de conversar e dar boas risadas. Têm solitários, doentes em repouso, aposentados, alguns tristes e alguns que entram para falar besteiras mesmo.
Aqui vale o ditado: “cada um dá o que tem de sobra”.
Só na sala de 40 a 50 anos que visitei eu soube de pessoas que são amigas há anos no virtual e muitas até no real.
O mais surpreendente é que já existem casais que se conheceram e vivem “felizes para sempre” a partir desse primeiro contato na net – incluindo o orkut e blogs.
Enfim, estamos vivendo uma nora era de relacionamentos.
Depende da escolha de cada um.



texto: etelvina de oliveira

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Lembranças -

Que eu conheça a tristeza
pois só assim saberei quando
encontrara verdadeira felicidade
Que a mentira seja usada contra mim
para que possa guardar para sempre
o valor da palavra "verdade"
Que eu ouça sua voz ao menos uma
última vezpois ela será como música
companheira de minhas noites em claro,
sofrendo a infelicidade
Que sinta seu cheiro novamente
para me embriagar em lembranças felizes
recordar de quando éramos únicos, singularidade
Que possa tocá-la novamente
sentir sua pele, seu calore mais uma
vez me acalmar com carinho e tranqüilidade
Que possa provar ao menos um último beijo
aquecer meu coração agora solitário
e guardar em minha alma o gosto do amor, pela eternidade

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Criança, era outro...

Criança, era outro...
Naquele em que me tornei
Cresci e esqueci.
Tenho de meu, agora, um silêncio, uma lei.
Ganhei ou perdi ?



texto: Fernando Pessoa

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Chega de Saudade

Vai, minha tristeza, e diz a ele
Que sem ele não pode ser
Diz-lhe, numa prece, que ele regresse
Porque eu não posso mais sofrer

Chega de saudade, a realidade é que sem ele
Não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai

Mas, se ele voltar, se ela voltar
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca

Dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim

Que é pra acabar com esse negócio de viver longe de mim
Não quero mais esse negócio de você viver assim
Vamos deixar desse negócio de você viver sem mim


texto: Vinícius de Moraes (versão feminina)

domingo, 27 de julho de 2008

Quero escolher meu VICE

Ontem, conversando com minhas amigas Lúcia e Nica sobre as vantagens de ser VICE, resolvi escrever esse texto.
Por favor, alguém me responda:

Por quê eu não posso escolher o meu VICE?

Por quê o VICE não faz campanha?

E, se eu não posso escolher o VICE, por quê eu tenho que ficar com ele se eu votei no OUTRO?

Por quê o SEGUNDO colocado na eleição não assume o cargo se o eleito “deu o fora”?
Afinal, se ele foi eleito por diferença percentual de votos a mais do que o segundo colocado, subentende-se que esse SEGUNDO é o vice do primeiro, ou não?

Por quê tenho que ficar com o VICE que nem sei quem é?

Não está na hora de mudar a lei eleitoral?

Cadê o direito do Eleitor?

Em São Paulo somos especialistas em ficar com o VICE, tanto no governo como na prefeitura. E não vou me ater a citar nomes ou promessas ditas por políticos que “juraram” que ficariam no cargo até o fim e “zarparam fora”.

Lembrei de uma frase dita por meu falecido cunhado Ricardo, um alemão sisudo e intelectual, que era mais ou menos assim:


“Nunca queira ser o primeiro. Sejas tão bom quanto, ou até muito mais, mas
deixe os louros para o primeiro. È mais tranqüilo e seguro”.

Na época, achei engraçado e nem prestei atenção ás referências que ele citava, inclusive do autor da frase, que não era dele.
Mas ela cabe bem nesse assunto: a política brasileira.

Por quê, ao invés de termos XPTO candidatos ao mesmo cargo, por quê esses MESMOS candidatos não se lançam a VICE?
Por exemplo: o Kassab se lançaria a VICE do Alckmin, assim por diante.
Goste ele ou não.

Teríamos dois votos:
Escolheriamos o nome para o CARGO e o VICE.

Daí você poderia me dizer:
- E os partidos? As coligações? O Programa de Governo?
E eu como tola eleitora te diria:
- E no final, tudo não acaba em pizza mesmo?


texto: Etelvina de Oliveira

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Desejo-te

Desejo primeiro que ames,
E que amando, também sejas amado.
E que se não fores, sejas breve em esquecer.
E que esquecendo, não guardes mágoa.
Desejo, pois, que não sejas assim,
Mas se fores, saibas ser sem desesperar.

Desejo também que tenhas amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Possas confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
Das tuas próprias certezas.
E que, entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que não te sintas demasiado seguro.

Desejo depois que sejas útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que sejas tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que, sendo jovem,
Não amadureças depressa demais,
E que sendo maduro, não insistas em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dediques ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo também que sejas triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubras
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que descubras,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes e que estão à tua volta.

Desejo ainda que afagues um gato,
Alimentes um cuco e ouças o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, te sentirás bem por nada.

Desejo também que plantes uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhes o seu crescimento,
Para que saibas de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que tenhas dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloques um pouco dele
Na tua frente e digas «Isso é meu!»,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum dos teus afetos morra,
Por ele e por ti,
Mas que se morrer, possas chorar
Sem te lamentares e sofrer sem te culpares.

Desejo por fim que, sendo homem,
Tenhas uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenhas um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.


texto: Victor Hugo (Poeta e escritor francês, 1802-1885)

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Do nariz aos pés

Sempre ouvi dizer que a vida começa aos 40.
A minha começou esses dias.
Está sendo em partes homeopáticas.
Sabe a última? Descobri dois extremos do meu ser: meu nariz e meus pés.
No caso do primeiro, soube por um otorrinolaringologista que meu nariz não funcionava.
Isso mesmo, ele olhou muito sério para meu Raio X das faces e mandou o diagnóstico:
- Você não está com sinusite, mas seu nariz está feio mesmo.
- Como assim? – pergunto entre surpresa e magoada.
Ele me chama para ver mais de perto “a foto” fatídica.
- Está vendo aqui?
Olho sem ver nada de mais nem de menos.
- Mas em todo Raio X o meu nariz sai assim.
- Ninguém nunca mandou você procurar um especialista?
- Não.
Saio da sala de posse do bendito Raio X e as guias de outros exames.
Dias depois, na consulta de retorno, não soube distinguir se o sorriso do “doutor” era de educação ao me vir ou se era de satisfação de poder me provar, pelos exames, que meu nariz estava um bagaço mesmo.
Depois das gentilezas de praxe descubro que desde os meus 15 anos eu não respiro pelo nariz.
Fazendo as contas do antes, do agora e do futuro: nunca tive nariz.
Como assim? Adoro essa frase.
- Você teve uma deformação na concha esquerda formando uma bolha de ar que fechou essa narina. Por sua vez, essa bolha empurrou o septo que obstruiu o lado direito.
- Ãhã. É?
- Teremos que fazer uma pequena cirurgia.
- Certo.
Achei melhor encerrar a conversa e ir consultar outros “especialistas”: minhas amigas de serviço, minha mãe, irmã, cunhadas e amigas de internet.
As opiniões foram bem variadas mas resolvi fazer.
Passada as primeiras semanas mais sensíveis, estou aqui com meu lindo narizinho – ele sempre foi uma graça -, funcionando que é uma beleza.
O próximo passo será aprender a respirar por ele.
Por outro lado, por volta de 1,56 m de distância, no extremo sul do corpo tive uma grata surpresa: meus pés.
Não é que nunca prestei muita atenção nos “bichinhos”!
Semana passada, em plena aula de Narrativa, a professora solta uma frase contundente:
- Tem muita gente que não lava os pés. Acha que, só porquê já lavou os cabelos e ensaboou o corpo, não precisa lavá-los. A água que escorre do corpo já faz isso.
Você lava os seus?
Pode afirmar com 100 por cento de certeza? Tirando os dias de muita pressa?
Pessoalmente, tive que puxar pela memória.
Acho que perdi tanto tempo controlando o diâmetro da barriga e a queda livre das mamas e glúteos que nunca enxerguei os pés.
Lavar, secar entre os dedos, passar creme hidratante isso tudo é tão automático que nunca fiz isso como realmente se deve: com carinho. O máximo do máximo é levá-los ao pedicure.
É engraçado como deixamos de prestar atenção em nós.
No meu caso, os pés assim como o nariz são só exemplos.
Vamos nos acostumamos com a ausência disso ou daquilo, ou valorizamos tanto a aparência no geral que esquecemos os detalhes.
De que me adianta um corpo escultural – ou nem isso -, se não tiver meus pés?
.................................................................................
................................................................................
Parei um pouquinho para olhar pra eles.
Depois dessa aula passei a cuidar melhor deles.
Aliás, ando cuidando mais de mim.
Descobri que se nunca notei o que está na cara nem os pés, que me mantêm em pé, o que dirá dos meus sentimentos?
Pensando bem, a vida não começa quando nascemos e sim quando nos descobrimos.
Pode até ser aos 40. Quando chega a hora, chegou a hora.
Sempre é tempo para aprender e descobrir o esquecido, o que está fora de uso.
Quando fazemos isso podemos começar a pensar para onde iremos em seguida.



texto: Etelvina de Oliveira

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Bonecas de Papel


Minha amiga Bel me postou essa imagem no orkut e, automaticamente, me veio a lembrança minhas bonecas de papel.
Você teve alguma?
Eu guardava minhas moedas e quando completava o valor ia satisfeita a banca de jornal e escolhia o modelo que ainda não possuía. Em uma mesma cartela vinham a boneca e vários modelos de roupas, sapatos e acessórios.
Nossa, quantas histórias criei. Era um prazer indescritível encaixar aquelas peças naquele manequim de papel cartão mas que nas nossas mãos criavam vida, nos transportavam para sonhos.
Será que as meninas de hoje curtiriam essas bonecas?
Na internet essa mesma ideia é usada em sites de "bonecas virtuais".
Mas - que me perdoem o plagio do comercial da Mastercard -, aquele gostinho de planejar a compra; a ida as bancas; o destacar peça por peça e o zelar pela conservação de cada uma delas como se fossem relíquias... isso sim não tinha preço.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Eu li Machado de Assis

Não foi por gosto, mas por obrigação que tive meu primeiro contato com as obras de Machado de Assis.
Por exigência escolar tive que ler: A mão e a Luva; Helena; Memórias Póstumas de Brás Cubas; Quincas Borba e Dom Casmurro.
Depois de tanto tempo só posso agradecer por isso tudo, pois foi nessas primeiras leituras - desse e de outros grandes romancistas brasileiros - que descobri meu amor pela leitura e pela escrita.
Aprendi a sonhar.
E, a partir de lá, ficou fácil me imaginar em outra época, vestindo longos vestidos rodados, usando chapéus, tendo minha cintura apertada por espartilhos rendados.
Sonhar com amores impossíveis e cavalheiros de terno e gravata segurando nas mãos um lindo chapéu branco, como se eu fosse uma de suas personagens.
Através dessas leituras escolares pude me ver em senzalas, em cortiços, emaranhada com padres e moços ingênuos e sonhadores como todos nós somos.
Uns mais, outros menos.
Hoje, 100 anos sem Machado de Assis e outros tantos, só posso brindar aos homens que foram agraciados por Deus pelo dom da escrita e felicitar aos corajosos que ainda se arriscam.

Etelvina de Oliveira

Mulheres do topo da Árvore

As Melhores Mulheres pertencem aos homens mais atrevidos.
Mulheres são como maçãs em árvores.
As melhores estão no topo.
Os homens não querem alcançar essas boas, porque eles têm medo de cair e se machucar. Preferem pegar as maçãs podres que ficam no chão, que não são boas como as do topo, mas são fáceis de se conseguir.
Assim, as maçãs no topo pensam que algo está errado com elas, quando na verdade, ELES estão errados...
Elas têm que esperar um pouco mais para o homem certo chegar... aquele que é valente o bastante para escalar até o topo da árvore.

texto: Machado de Assis
100 ANOS SEM ELE

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Dois pesos, duas medidas

Ainda me surpreendo com algumas coisas. Acabei de ver na TV o repudio de alguns senadores chocados com a prisão de um banqueiro. Isso depois de um ano de investigação.
Será que entendi mal? Parece que o senador disse que: “é justo prender pobres e ricos.... mas os muito ricos? E usar algemas?.....”
Eu devo ter ouvido errado.
Na hora me veio á mente a imagem da Nazareth, uma antiga vizinha nossa que encontrei ontem na casa da minha mãe.
Mulher rígida que se orgulha de ter vindo de Pernambuco para São Paulo para ganhar a vida.
Sem papas na língua sempre fez questão de ser correta em tudo que faz.
Nem que para isso ofendesse as pessoas a sua volta. Não concordava com o erro nem que perdesse um amigo.
Contava as gargalhadas que aqui na cidade conheceu o seu Givaldo, um sergipano lindo de morrer. Depois de algum tempo de namoro – com muito respeito como faz questão de dizer -, casaram-se e tiveram quatro filhos. O Francisco é o caçula.
Mãe zelosa, nunca deixou os filhos soltos por ai. Estava sempre de olho, orientando e fiscalizando os “meninos”.
Os filhos casados ainda hoje falam com os pais antes de tomar qualquer atitude.
Quando o Francisco ia completar 18 anos o pai comprou um Fusca velho para que o rapaz fosse arrumando aos poucos e valorizasse seu primeiro carro.
O que terá sido feito do Fusca?

Ontem foi feriado aqui em Sampa aproveitei para visitar minha mãe e levei um susto quando encontrei a Nazareth lá.
Ela está magra e sem vida.
- Oi Nazareth, você está bem?
- Ontem não fui ver o Francisco.
- Não, Nazareth!
- O Givaldo foi.
- Como ele está?
- Indo.
- Ele está com quantos anos?
- Vai fazer 19 no final do ano.
Tento imaginar como está sua aparência hoje. Não consigo. Na mente só ficou a imagem daquele menino tímido, cabisbaixo e tranqüilo. Segundo os pais, um menino obediente, estudioso e extremamente fechado.

Parece que foi ontem.
- Filha, peça oração na igreja o Francisco e mais oito meninos foram presos.
- Não acredito! O Francisco?
- É. Ele saiu para sua primeira festa com amigos e agora estão todos na delegacia.
Coloco o fone no gancho como se estivesse colocando uma barra de 100kg no suporte.
Mas o que será que fizeram esses meninos?
A primeira coisa que faço ao chegar na igreja é pedir a oração. Comovidos pela situação dessas mães sou atendida prontamente.
Não consigo tirar essa história da mente.
O telefone toca várias vezes mas minha mãe não está em casa.
Bem mais tarde ela me liga:
- Oi filha, tudo bem?
- Tudo. Mas e o Francisco?
- Ai filha, ele esta preso.
- Mas como? Ele não é primário, menor?
- Ele fez 18 anos no mês passado.
- Sei. A senhora está chorando?
- Ai filha, a Nazareth está arrasada. Bateram muito nos meninos.
- Mas não podem fazer isso – grito do outro lado do fone.
- Mas eles tentaram roubar o carro de um policial que estava parado namorando. A moça é filha de um juiz.
- Mesmo assim mãe.
- Não sei. A Nazareth disse que o Francisco teve que assinar por tudo. Ele e outro menino que fez 18 anos ontem.
- E os outros?
- São menores e já foram levados pra FEBEM. O delegado e os policiais não deixaram a advogada falar nada. Não quis ouvir nem os pais.

Olho para o rosto daquela mãe e fico muda.
Não há mais nada da Nazareth que conheci. Como não tinham dinheiro nem conhecimento nenhum, bateram na porta de uma advogada recém formada dando graças por ela cobrar só CR$ 2.000,00 para ir com eles à delegacia.
Não entendo de leis – e quem entende -, mas dois meses depois o Francisco foi julgado e pegou 11 anos de prisão, sem apelação.

Texto: Etelvina de Oliveira

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Se te comparo a um dia de verão - Willian Shakespeare

Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:


Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Muitos choram

Nós cobramos justiça, mas até onde somos justos.
Nos tempos atuais quem não gostaria de contar com a proteção de um guarda-costas?
Quem não gostaria que seus filhos fossem acompanhados por um agente de segurança?
Mas esse “protetor” é humano, ele pode falhar contra o outro.
Quantas vezes já reclamamos de falta de segurança e exigimos mais policiais nas ruas?
Todos os meses centenas de policiais saem das academias. Eles são mal preparados e mal remunerados, mas precisam trabalhar. Eles têm dívidas, filhos, moram em situações precárias convivendo com drogas e roubos. Acompanhamento pscológico nem pensar!
Quantas vezes exigimos mais ação desses policiais?
Super heróis só existem nos filmes.
Temos visto várias falhas desses profissionais.
Como a mãe que teve seu carro metralhado e perdeu seu filho vai poder sair às ruas novamente?
Cobramos leis mais duras contra infratores.
O alvo da nossa “sede de justiça” tem sido os menores.
Seja sincero, na hora da ira, você nunca desejou que eles fossem espancados ou pior?
Mas e se esse menor fosse da sua família?
Jovens militares do exército entregaram menores aos traficantes para esse “corretivo”. Agora várias mães choram por seus filhos. Uns ceifados pela morte e outros pela vergonha e prisão.
Você viu as cenas da prisão de um menino de 15 anos, de braços levantados se rendendo aos policiais depois de uma perseguição? A reportagem, que foi exibida em alguns jornais de TV, denunciou que ele chegou morto ao hospital.
E a nova "lei seca"?
Quantas vezes você dirigiu depois de 5 ou 10 “cervejinhas” com amigos?
Quantas vezes depois de uma discussão de trânsito você não se surpreendeu com medo de ter uma arma ali na hora?
Isso sem falar nas conduções lotadas e no mau atendimento nos bancos, no serviço público, nas lojas e etc.
Já parou para pensar se ao invés do morto ou ferido ser um conhecido seu, ele fosse o que segura a arma ou o volante?
Está na hora de deixarmos a hipocrisia e nos DESARMARMOS.
Mas isso tem que ser por DENTRO.

"O homem bom do bom tesouro do seu coração tira o bem, e o mau do mau
tesouro do seu coração tira o mal, porque a boca fala do que o coração está
cheio." Lucas 6:45

texto: Etelvina de Oliveira

sábado, 5 de julho de 2008

Quero um amor - Nikitita... a poetinha de Niterói

Quero um amor
para amar todas às vezes
que a solidão repousar
sobre o meu leito...

um amor sereno
a afagar-me com jeito
enquanto o dia dorme
nos braços da noite...

que não seja tão jovem
e assim mesmo se derrame
na minha pele madura
mas ainda quente...

que me cante em versos
que de paixão me encante
e de novo me desperte
para não morrer de tédio...

que seja um amor eterno
no tempo que a vida urge
para saciar a carne
e me abrasar o peito...

que seja um amor ardente
a dedilhar-me em música
sem convenção, sem regras
apenas, convergente...

que se deixe fluir
como orvalho na folha
e me faça tão sua
que eu esqueça de mim...


texto; uma amiga sa sala B

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Benditos! - Machado de Assis

Benditos os que possuem amigos,
os que os têm sem pedir,
Porque amigos não se pede,
não se compra nem se vende.
Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos,
os que falam com o olhar,
Porque amigo não se cala
não questiona nem se rende,
Amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos,
os que entregam o ombro pra chorar,
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora
pra consolar!

Benditos sejam os amigos
que acreditam na tua verdade,
ou te apontam a realidade,
Porque amigo é a direçãoé a base,
quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos
de raízes, verdadeiros,
Porque amigos são herdeiros
da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!

terça-feira, 1 de julho de 2008

Um ótimo livro

Acabei de ler um livro lindo que recomendo a todos: A Cidade do Sol, de Khaled Hosseini, o mesmo autor de O caçador de Pipas. Rico em detalhes e lembranças. Uma história envolvente e sofrida. Ela aguçou, ainda mais, minha sensibilidade. Só para você sentir o gostinho transcrevo dois trechos do livro que mexeram com minhas emoções.

“Como um amante da arte fugindo de um museu em chamas, agarrava o que podia – um olhar, um sussurro, um gemido -, buscando preservá-lo, evitar que desaparecesse. O tempo porém é o mais inclemente dos incêndios e, afinal, não deu para salvar tudo, Mas ela conseguiu guardar algumas coisas.”

“Ela bem sabe que, para a filha, as preces são uma forma de lembrar Mariam, de continuar a manter viva aquela lembrança mesmo que o tempo siga o seu curso e que acabe eliminando Mariam do jardim de sua memória, como uma plantinha arrancada pela raiz.”

Etelvina de Oliveira

Apenas saudade

Houve um tiro.
Um disparo no meio da noite, ceifa-se uma vida, uma história.
Não houve depois um caminho.
Não importa mais a mão que segurava a arma ou os motivos. Acabou.
Daquele momento em diante nunca mais um sorriso, um aceno.
Nunca mais a insistência daquele último beijo, o abraçar as crianças, aquela despedida cheia de volta.
Faz quanto tempo mesmo?
Quem apagou a luz?
Quem eram aquelas pessoas de luto?
O que aconteceu com os anos?
Quando parei de culpar-te por ires embora?
Cada novo tiro, cada nova morte lembro-me de ti. Parece que a dor do outro ascende em nós a nossa própria.
Nesse momento tem outras pessoas chorando de dor pela perda.
Não choro. Sinto saudades.
Saudades do antes, dos risos, dos olhares, da cumplicidade, do companheirismo, da rápida passagem por nossas vidas.
Em cada um deixas-te uma marca.
Em todos, deixas-te a lembrança de afeto, atenção e união.
Te vejo nos teus frutos.
Não consigo odiar a morte nem o quê mata.
Na verdade, o que sangra é a vida que passa.

Etelvina de Oliveira

em memória de Silas Carvalho de Moura - 1963/1994

quinta-feira, 26 de junho de 2008

De cavaleiro à cavalheiro

Hoje fui surpreendida por um cavalheiro no metrô que se levantou e me cedeu o lugar. Moro em Sampa onde os meios de transporte estão sempre cheios e apertados
E não é que hoje, dia 25 de junho de 2008 – marquem essa data -, um homem cedeu o lugar pra mim, uma simples mulher!
Não foi só eu que fiquei surpresa, isso gerou comentários por mais 4 ou 5 mulheres que estavam por perto da cena.
Essa atitude me fez viajar no tempo e lembranças gostosas me vieram á mente.
Não sei como foi sua infância, pré-adolescência e juventude, mas vou te contar um pouco da minha. Quer ler?
Pois bem, houve um tempo em que eu sonhava com cavaleiros. Vindos em um cavalo branco maravilhoso.
A aparência dependia do meu humor, mas eram sempre lindos de morrer.
Procurava terminar meus afazeres domésticos – que toda mocinha deveria fazer para ajudar a mãe – e me trancava no quarto.
Ali eu vestia as roupas da minha mãe ou das minhas irmãs mais velhas, calçava seus sapatos e me enfeitava com suas pulseiras e colares.
Minha irmã mais velha, por parte de pai, mantinha o guarda-roupa trancado a chaves para que eu não mexesse em nada. Depois de mais de trinta anos é que lhe contei que eu invadia seu espaço só para admirar suas coisas. Tudo organizado em caixinhas. Eu olhava tudo aquilo e imagina que essa era a grande diferença em se tornar adulta. Passar esmalte vermelho nas unhas, usar todos aqueles enfeites, saltos altos e o máximo do máximo: usar meias de seda.
Quando não estava fuçando nessas coisas, me virava com o que tinha disponível: lençóis, colchas e toalhas de banho.
Enrolava-me nesses panos e fazia vestidos de calda longa. Amarrava na cabeça toalhas para fingir que eram meus cabelos loiros. Outras vezes, eram longos e negros como a noite.
Criava histórias mirabolantes para que meu cavaleiro viesse me resgatar.
Sempre apaixonado; inteligente; forte; meigo e educado.
Meu cavaleiro poderia ser um príncipe, um jovem apaixonado que adorava andar á cavalo, um fã, mas sempre alguém sem defeitos.
Depois de um tempo, apesar de continuar fantasiando e inventando histórias, meu cavaleiro começou a tomar as formas dos meus paquerinhas – gíria antiga, ?
Tinham a aparência de um amigo de escola, um vizinho, um professor, um artista de TV, um herói de filme, um primo meu ou de alguma amiga, irmão de amiga, enfim meus cavaleiros eram conhecidos, mas continuavam perfeitos e maravilhosos.
Conversar com esses personagens no real, cara-a-cara, nem pensar. Ficava roxa só de imaginar.
Outro dia fiquei encantada e surpresa ao ler um texto no blog de um amigo, muito bem escrito e revelador. Descobri que enquanto eu sonhava com príncipes e romances os meninos da minha geração estavam disputando as meninas nos bailinhos. Claro, dançando e apalpando aquelas oferecidas.
Aposto que nem vermelhas elas ficavam!
Mas, voltemos as minhas lembranças.
Depois de um tempo troquei esse cavaleiro por um namorado de verdade.
Eita, além de não ter cavalo ainda era ciumento e possessivo. Comparando com meus sonhos, nem era tão bonitinho assim. Mas os bonitinhos e perfeitos estavam sempre namorando com alguém.
Acho que ai começou a insatisfação e comparações que sempre fazemos. Levamos séculos para conquistar alguém e quando o fazemos passamos a achar que o outro passarinho fora da gaiola é melhor que o nosso.
Depois dos 40 e tantos, muitas vezes, deixamos de achar qualquer tipo de disponíveis.
Estão todos atrás de ninfas ou colecionando “experiências”. Já não são assim aqueles príncipes lindos e maravilhosos mas se acham. E muitos nem sabem a diferença entre cavaleiro e cavalheiro.
Onde estão os homens gentis, sensíveis, delicados e românticos?
Lembrei de uma amiga da minha irmã que fez um comentário ímpar sobre isso. Ela é professora não sei de quê, ótima profissional e sozinha.
Ela resumiu tudo assim:
- Primeiro eu queria um homem formado, bem empregado, com bens, educado, fino, trabalhador e intelectual. Depois de um tempo, observando alguns casais que conheço e vendo muitos homens que chamam as mulheres de gordas, burras, desleixadas e as fazem passar vergonha na frente dos outros, fui diminuindo as minhas exigências. Agora, se ele tiver um emprego, souber escrever o nome e souber como tratar uma mulher o resto eu ensino.
Talvez por isso, um homem cavalheiro no metrô cause tanto furor entre as mulheres.

Etelvina de Oliveira

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Cadê minha cara metade?

Existe homens e mulheres perfeitos?
De quem é a culpa? Existe culpa?

Quer ler uma história sobre isso?
Pense bem sobre isso. Depois que começar, vá até o fim.

Era uma vez.... há muitos e muitos anos atrás, antes até que Jesus andasse sobre a terra.
O maior sábio dos sábios resolveu lutar contra todas as forças do mal e provar que homens e mulheres eram capazes de viver em harmonia e se amarem profundamente.
Mas não um tipo qualquer de amor, teria que ser um amor sincero e real.
Ele acreditava nisso – e acredita até hoje – apesar de saber que isso depende de cada um. Da sua parte ele faria tudo para ajudar sem interferir, a menos que fosse solicitado.
Como ele pode ver o futuro e o passado como se tudo fosse hoje, resolveu dar uma olhada em como estariam vivendo homens e mulheres há milhares de anos na frente. Escolheu o ano de 2008.
Olhou por toda a terra e viu homens e mulheres sozinhos. Muitos entregues ao trabalho, sem tempo para mais nada. Outros tantos vagando sem rumo, sem casa, sem condições de vida digna.
Mas, todos procurando companhia. Desconfiados uns dos outros. Disputando cada centímetro de espaço, fosse ele no pedestal da fama ou em um cantinho nos seus corações.
Viu que homens e mulheres queriam atenção queriam encontrar seu par, mas, muitas vezes, quando encontravam ainda estavam insatisfeitos.
As mulheres queriam um homem que lhe chamasse de linda em vez de outros adjetivos. Que deitasse em baixo das estrelas e escutasse as batidas do seu coração. Ou que permanecesse acordado só para observar ela dormindo. Um homem que quisesse mostrá-la ao mundo e segurasse sua mão na frente dos amigos dele. Que valorizasse sua inteligência e seu poder de sedução. Que admitissem que eram elas, com sua sabedoria, que conduziam a relação e que sem elas os homens são indecisos e inseguros.
Os homens queriam uma mulher que não reclamasse de nada, nem de jogos de futebol nem bebida. Não cobrassem atenção, flores, recados, e-mails, presentes em dias especiais, visitas a sogra, idas ao médico, as compras ou ao shopping. Não ficassem monitorando seus passos pelo celular. Deixassem eles trabalharem em paz e depois saírem com os amigos antes de ir pra casa. Que falassem menos com as amigas – menos fofocas. Fossem menos volúveis e mandonas e, principalmente, assumissem seus erros. Claro que eles querem estar com elas, mas o mundo não é só elas. Eles querem ser livres.
Em comum, homens e mulheres queriam que o outro ligasse de volta quando desligassem na cara deles. Ambos queriam navegar na Internet, fazer amizades, isso, é claro, desde que o outro não entrasse mais.
Nossa, o sábio viu que faltava união.
Faltava clima, entendimento e cumplicidade. Percebeu que quanto mais conhecimento mais os homens se afastavam, pois surgia a disputa e a ganância.
Pensou, pensou e resolveu criar um ambiente de paz e harmonia.
Se não houvesse disputa profissional, intelectual e nem telecomunicação a coisa iria bem. Se não houvesse dinheiro nem orgulho, quem sabe.
Pois bem, o sábio criou um jardim maravilhoso. Tudo que era planta, flores, árvores frutíferas, e águas cristalinas ali tinha.
O clima era sempre ameno e refrescante.
Os animais andavam soltos, dóceis e em harmonia. Machos e fêmeas unidos.
Era um paraíso.
Mas o sábio queria algo que unisse definitivamente homens e mulheres e que eles entendessem que são iguais em tudo, até nos erros e defeitos.
Que eles devem andar juntos, desfrutar juntos e se aceitarem como um.
Resolveu então criar com suas próprias mãos um modelo masculino perfeito. Ele o fez viril, com aparência de força que impunha respeito diante dos outros animais. Grande e inteligente. Colocou dentro do seu peito um coração generoso e sensível a ponto de ceder uma parte de si para alguém.
Dessa pequenina parte o sábio fez uma mulher. Claro que ela saiu menor e frágil em tamanho, mas, para compensar, o sábio lhe colocou uma força descomunal para que ela usasse quando fosse necessário. Deu-lhe intuição e dose dobrada de carinho e afeto. Para completar, deu a ela o dom de gerar novas vidas - com a ajuda do homem, é claro.
Satisfeito, o sábio colocou um diante do outro e lhes explicou tudo em detalhes. Falou que um completava o outro; que eram feitos um para o outro para que não se vivesse só.
Que as qualidades de um apagariam os defeitos do outro.
Que até anatômicamente um se encaixava no outro.
Ordenou que vivessem em paz e harmonia como os demais animais daquele lugar.
Lembrando do futuro o sábio quis evitar que o erro se repetisse e avisou: - de toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás....
E o casal viveu anos e anos felizes naquele lugar. Comiam, bebiam e se amavam livremente, sem pudores e rivalidades.
Um belo dia, a mulher, que adorava caminhar, investigar as coisas e conversar com os animais, saiu para passear com sua amiga cobra.
Papo vem e papo vai a cobra lhe convenceu a desobedecer a ordem do sábio e a experimentar da fruta proibida.
Comeu e gostou. Como tudo que fazia ela contava e dividia com o homem, a primeira coisa que fez foi voltar correndo e lhe dar do mesmo fruto.
Encontrou o homem tranqüilo, sentado a sombra de uma árvore, observando a natureza.
Quando ela lhe ofereceu o fruto, mesmo sabendo que era proibido comê-lo e que estaria desobedecendo ao sábio, ele aceitou de imediato.
Os dois conheciam o sábio e sabiam de sua bondade e de seu amor por eles. Com certeza ele não seria rígido e entenderia a curiosidade de ambos. Não sabiam que ele era justo.
O sábio - como eu já disse, que via tudo no presente e no passado - já sabia o que eles tinham feito, mesmo assim perguntou ao homem o que ele tinha feito.
E o homem respondeu:
- a mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi.
O resto vocês já conhecem...... ou imaginam.

Pirilim, pirilim a história chegou ao fim


Etelvina de Oliveira
versão de texto retirado do blog de uma amiga (compartilhandoasletras.blogspot.com)

segunda-feira, 23 de junho de 2008

O Apagador Mágico

Amor de mais ou super-proteção?
Isso é bom?
Quer ler uma história sobre isso?
Pense bem antes de começar. Se começar, leia até o fim.
Pois bem.
Era uma vez.... em um tempo não muito longe assim ....acho até que esse tempo faz parte da sua geração....
Lá em Marilia, uma cidade do interior de São Paulo, uma nova família estava se formando. Sabe dessas famílias que o pai casa com outra mãe e tem mais filhos, que todo mundo vira irmão?
Pois é, um certo viúvo, pai de 5 filhos, se enamorou de uma jovem muito bonita que era só vinte anos mais nova que ele. Como essa moça já tinha uma filhinha, tinha vindo de uma cidade pequena lá nos confins do Paraná e esse viúvo não era de se jogar fora, casaram-se.
Tudo muito discreto, afinal a esposa havia morrido há menos de um ano, e foram todos morar juntos e felizes.
Não tão juntos nem tão felizes.
A família da falecida se achava ofendida, os irmãos do viúvo achavam uma loucura casar com uma mulher tão nova, os filhos – a mais velha apenas 8 anos mais nova que a madrasta -, nem se fala.
Só sei que um ano depois nascia a pequena Cinderella. Em virtude de um susto que a mãe levou com uma das brigas de ciúmes do pai, nasceu a menina de oito meses, toda roxinha, feia e doentinha.
Além de ser a caçula, sempre foi miúda. Por isso mesmo era tratada com preferências.
E a menina crescia como se estivesse numa redoma de vidro. Não podia ouvir palavrões ou piadas picantes, não podia se arriscar em brincadeiras, não andava sozinha, fazia manhas e nem fazia os trabalhos de escola que imediatamente eram feitos por um dos irmãos.
O pai adorava a menina e até os 7 anos de idade ele lhe preparava o café da manhã cortando o pão em pedacinhos para que Cinderella os molhasse no café com leite.
Mas o que a menina mais gostava era dos passeios em volta do quarteirão no final da tarde. O pai levava no bolso uma colher de sobremesas e na esquina lhe comprava uma caixinha de sorvete para que ela pudesse saborear sozinha a guloseima.
Aos olhos de Cinderella era tudo tão perfeito que ela nem percebia se provocava ciúmes entre os irmãos ou até mesmo na sua mãe, que talvez quisesse mais atenção do pai.
Para falar a verdade, acho que Cinderella nem percebia o mundo fora daquela pequena redoma de vidro cor-de-rosa.
Tudo ia uma maravilha até que um belo dia quem lhe aparece no caminho?
Um irmão.
Isso mesmo, Cinderella ganhou um lindo irmãozinho, gordinho, fofinho, com lindos cabelos cacheados e loiros.
Claro que as coisas mudaram, mas, Cinderella apagou isso da memória com um apagador mágico que não deixou nenhum restinho de lembrança.
E esse apagador foi tão bom que ela passou a usá-lo em vários momentos da sua vida.
Sempre que algo a magoasse, ferisse, doesse era só passar o apagador.
Claro que ela lembrava de uma briguinha boba aqui ou ali entre os pais – apesar da mãe jurar que era briga de vida ou morte algumas vezes até com armas. Mas nada que o apagador não amenizasse.
O mundo era cor-de-rosa.
Cinderella nem sabia que tinha se tornado obediente, estudiosa, educada, medrosa, insegura e indecisa como diziam todos a sua volta. Lá no seu mundinho ela era maravilhosa e perfeita, tinha até olhos verdes e cabelos loiros. Outras vezes, em suas brincadeiras, era uma princesa de olhos azuis e cabelos negros como a noite.
Um mês depois de completar 11 anos seu pai foi ao médico para um exame e nunca mais voltou. Epa, voltou sim, só que mortinho da silva.
Pobre Cinderella.
Ela apagou com o apagador mágico e nem ficou pro velório, foi á escola fazer prova e depois a uma festinha de aniversário. Ninguém podia lhe falar sobre a morte, isso não existia no mundo cor-de-rosa dela.
A casa sofreu uma transformação. Os irmãos, agora sem o pai e sem muita afinidade com a madrasta, foram saindo aos poucos para morar cada um a sua maneira. A mãe e a irmã, dois anos mais velha - Cinderella podia jurar que ela era 10 anos mais velha -, foram trabalhar e Cinderella assumiu a casa e o irmão mais novo.
Parecia a Gata Borralheira das historias infantis.
Lavava, cozinhava, levava e buscava o irmão na escola, ia pra escola ela mesma e dormia.
Como não podia usar o apagador mágico toda hora, quando sentia medo ela e seu irmão entravam debaixo da cama até a mãe chegar do trabalho.
Em caso de dor era só deitar na cama e ficar bem quetinha rezando até dormir.
Acho que o mundo de Ciderellla já não era tão cor-de-rosa assim.
Mas ela ainda tinha um sonho: queria mesmo era ficar mocinha. Apesar de que nem fazia idéia o que seria isso, mas com certeza depois de ficar mocinha poderia participar das conversas e ir ao cinema com as irmãs mais velhas.
Nossa, que decepção ela descobriu que ficar mocinha era menstruar. Chorou o dia todo de bico na cama.
Um belo dia ela tomou uma decisão: queria trabalhar.
As irmãs e a mãe assustadas tentaram tirar essa idéia de sua cabeça, afinal ela era tão inocente, frágil, delicada e sem experiência.
Mas Cinderella insistiu tanto que concordaram. Não antes de lhe instruir sobre todos os perigos do mundo, a violência nas ruas, os “tarados” nos ônibus e nas ruas e no próprio serviço. Sobre os assaltos e os falsos amigos de trabalho.
Aos quinze anos Cinderella foi trabalhar.
Tornou-se uma ótima profissional. Eficiente, inteligente e disposta. Formou-se na faculdade - as suas custas e sem incentivo de ninguém.
Casou-se, teve filhos e continuou trabalhando.
Ah, quer saber mais detalhes?
Eu acho que ela deve ter por volta de 50 anos, continua tímida e insegura.
Fica assustada quando ouve ou lê coisas da década de 70, 80 ou 90. Quando tenta lembrar de sua própria vida só encontra fragmentos.
Eu não sei dizer se ela apagou tudo com seu apagador mágico ou se nada disso aconteceu de verdade no seu mundo cor-de-rosa.
Pirilim, pirilim... nossa história chegou ao fim.

Etelvina de Oliveira

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Pense nisso

"...Não importa de que forma a cultura, a personalidade, a psique ou
outra força qualquer exija que a mulher se vista ou se comporte; não importa
como eles todos possam desejar manter as mulheres vigiadas por suas damas de
companhia, cochilando por perto; não importa que tipo de pressão tente reprimir
a expressão da alma da mulher, nada disso pode alterar o fato de que uma mulher
é o que é, e que sua essência é determinada pelo inconsciente selvagem, o que é
bom...."

texto: Clarissa Pinkola Estés (trechos do livro "Mulheres que correm com os Lobos")

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Mãe moderna

Minha amiga Sonia Regly tem um blog(*) maravilhoso que nos obrigada a pensar e refletir sobre coisas importantes.

Hoje li na sua página um texto que fala das alarmantes pesquisas sobre os Jovens brasileiros. As estatísticas são assombrosas.

Não sou especialista no assunto, nem pretendo, mas, como em tudo adoro colocar meu "bedelho", vou deixar aqui um pouquinho de mim.

Tive uma criação rígida, sem meios termos. Minha mãe dizia o que era certo e pronto. Não havia questionamentos.

Existiam duas classes: os adultos - aqui entram todos que fossem mais velhos que eu e, por tanto, donos de conhecimento e da razão - e, do outro lado, EU - criança, mais novos, jovens, etc.

Existia uma norma de conduta e respeito inabalável.

Tudo que não soubéssemos recorríamos aos “conselhos dos mais velhos”. Em caso de perigo, a ordem era sempre a mesma: procure sempre por um policial.

Pessoas de bem não roubam,não matam, estudam, trabalham e formam famílias.

Quem ultrapassasse esse "limite" era rebelde.
Tornava-se uma pessoa "não grata" e deveria ser riscada do meu convívio pessoal.

Ai estavam incluídos os que furtavam pequenas coisas; os que cabulavam aulas; os briguentos; os que respondiam para os professores e os usuários de drogas: cigarros, bebidas e maconha.

Ditadura? Militarismo?

Não sei. Funcionava para minha família.

Comecei a trabalhar aos 15 anos, estudei, me formei, casei com um homem responsável e trabalhador que teve a mesma criação que eu. Tivemos dois filhos.

Nesse meio tempo tudo mudou.

Muitos já escreveram sobre essas mudanças, vou repetir aqui trechos de textos que guardei na mente por dizerem exatamente o que observei e vivi na pele.

Com meus filhos, se eu quisesse, poderia contar com o auxílio de terapeutas, pedagogos, orientadores escolares e profissionais multidisciplinares.

Tudo isso para não lhes dar a mesma educação “tirana” que recebi.

Essa nova geração agora podia contar com os Direitos Humanos e os Direitos dos Menores e Adolescentes. O trabalho antes dos 18 anos passou a ser crime.

Filhos ajudarem no trabalho de casa passou a ser crime. Jovens e crianças ganharam o direito de questionar e impor suas opiniões de igual para igual com todo o "mundo adulto". Doutrina religiosa passou a ser preconceito.

Educação cívica passou a ser "careta", e muitos nem sabem cantar o Hino Nacional. Fumar e beber junto com os pais passou a ser interação igualitária e familiar. E meu filho de 16 anos faz questão de votar esse ano.

No meu caso, tive que fazer escolhas.

Mantenho as bases e me adapto as “modernidades”.

Mas em termos de mundo como ficamos? Que escolhas os adultos estão tendo para lidar com esses jovens?

E os professores, muitos têm a minha idade e outros tantos já são frutos dessa geração “mutante”.

Será que nós, a sociedade, não estamos acuados sem saber como lidar com o que “criamos”?

Com a Graça de Deus, até aqui os princípios bíblicos fazem parte da conduta da minha família.

Mas o mundão está aí. Quando eles saem oro para que Deus os livrem das garras dos marginais e dos policiais corruptos. Torço para que estejam em um lugar que possam sacar do celular - que esse tenha bateria – e que lembrem de ligar pra mim antes de falar “com qualquer” estranho na rua.

E fico com o coração nas mãos e me sentindo antiquada, principalmente, quando me pego desejando estar vivendo HOJE exatamente como eu vivi com meus pais.


texto: Etelvina de Oliveira, baseado em opiniões de vários autores.

(*)compartilhandoasletras.blogspot.com

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Se não quiser adoecer - Dr. Drauzio Varella

Se não quiser adoecer - "Fale de seus sentimentos"
Emoções e sentimentos que são escondidos, reprimidos, acabam em doenças como: gastrite, úlcera, dores lombares, dor na coluna.. Com o tempo a repressão dos sentimentos degenera até em câncer. Então vamos desabafar, confidenciar, partilhar nossa intimidade, nossos segredos, nossos pecados.O diálogo, a fala, a palavra, é um poderoso remédio e excelente terapia..

Se não quiser adoecer - "Tome decisão"
A pessoa indecisa permanece na dúvida, na ansiedade, na angústia. A indecisão acumula problemas, preocupações, agressões. A história humana é feita de decisões. Para decidir é preciso saber renunciar, saber perder vantagem e valores para ganhar outros. As pessoas indecisas são vítimas de doenças nervosas, gástricas e problemas de pele.

Se não quiser adoecer - "Busque soluções"
Pessoas negativas não enxergam soluções e aumentam os problemas.Preferem a lamentação, a murmuração, o pessimismo. Melhor é acender o fósforo que lamentar a escuridão. Pequena é a abelha, mas produz o que de mais doce existe. Somos o que pensamos. O pensamento negativo gera energia negativa que se transforma em doença.

Se não quiser adoecer - "Não viva de aparências"
Quem esconde a realidade finge, faz pose, quer sempre dar a impressão que está bem, quer mostrar-se perfeito, bonzinho etc., está acumulando toneladas de peso... uma estátua de bronze, mas com pés de barro.Nada pior para a saúde que viver de aparências e fachadas. São pessoas com muito verniz e pouca raiz. Seu destino é a farmácia, o hospital, a dor.

Se não quiser adoecer - "Aceite-se"
A rejeição de si próprio, a ausência de auto-estima, faz com que sejamos algozes de nós mesmos. Ser eu mesmo é o núcleo de uma vida saudável. Os que não se aceitam são invejosos, ciumentos, imitadores, competitivos, destruidores. Aceitar-se, aceitar ser aceito, aceitar as críticas, é sabedoria, bom senso e terapia.

Se não quiser adoecer - "Confie"
Quem não confia, não se comunica, não se abre, não se relaciona, não cria liames profundos, não sabe fazer amizades verdadeiras. Sem confiança, não há relacionamento. A desconfiança é falta de fé em si, nos outros e em Deus.

Se não quiser adoecer - "Não viva SEMPRE triste!"
O bom humor, a risada, o lazer, a alegria, recuperam a saúde e trazem vida longa. A pessoa alegre tem o dom de alegrar o ambiente em que vive.

"O bom humor nos salva das mãos do doutor". Alegria é saúde e terapia.

Para que serve uma relação? - Dr. Drauzio Varella

Definição mais simples e exata sobre o sentido de mantermos uma relação?
"Uma relação tem que servir para tornar a vida dos dois mais fácil".

Algumas pessoas mantém relações para se sentirem integradas na sociedade, para provarem a si mesmas que são capazes de ser amadas, para evitar a solidão, por dinheiro ou por preguiça. Todos fadados à frustração.Uma armadilha.

Uma relação tem que servir para você se sentir 100% à vontade com outra pessoa, à vontade para concordar com ela e discordar dela, para ter sexo sem não-me-toques ou para cair no sono logo após o jantar, pregado.

Uma relação tem que servir para você ter com quem ir ao cinema de mãos dadas, para ter alguém que instale o som novo, enquanto você prepara uma omelete, para ter alguém com quem viajar para um país distante, para ter alguém com quem ficar em silêncio, sem que nenhum dos dois se incomode com isso.

Uma relação tem que servir para, às vezes, estimular você a se produzir, e, quase sempre, estimular você a ser do jeito que é, de cara lavada uma pessoa bonita a seu modo.

Uma relação tem que servir para um e outro se sentirem amparados nas suas inquietações, para ensinar a confiar, a respeitar as diferenças que há entre as pessoas, e deve servir para fazer os dois se divertirem demais, mesmo em casa, principalmente em casa.

Uma relação tem que servir para cobrir as despesas um do outro num momento de aperto, e cobrir as dores um do outro num momento de melancolia, e cobrirem o corpo um do outro, quando o cobertor cair.

Uma relação tem que servir para um acompanhar o outro no médico, para um perdoar as fraquezas do outro, para um abrir a garrafa de vinho e para o outro abrir o jogo, e para os dois abrirem-se para o mundo, cientes de que o mundo não se resume aos dois.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Vida de Inseto


Adoro filmes!
Não entendo nada a respeito, mas aprecio. Me envolvo. Viajo. Choro. Sofro. Gargalho. Aprendo.

Pra mim, o cinema é uma grande janela aberta para o provável e possível. Uma parábola contada em curta ou longa-metragem.

Talvez por isso, qualquer semelhança com a vida real pode ser uma mera coincidência, ou não.

Acho que preciso de mais terapia.

Estava eu, linda e preguiçosamente, acompanhando o noticiário na TV quando uma matéria sobre a volta do imposto sobre os cheques aguçou meu arquivo cinematográfico.

A jornalista falou sobre a proposta de criar novamente uma contribuição sobre a movimentação financeira, a exemplo da CPMF, extinta em janeiro. Agora com outro nome, com taxa maior (0,08%) e permanente – estabelecida por lei complementar e não mais por emenda constitucional. Essa alternativa foi encontrada por petistas e permite ao Congresso assumir os desgastes da volta da CPMF.

Ou seja, a brincadeira da “batata quente”.

Puxei pela memória e lembrei do filme VIDA DE INSETO (A Bug's Life, EUA, 1998), feito em computação gráfica pelo estúdio Pixar.

A história se passa em torno de uma colônia de formigas que coleta comida durante a primavera e o verão para estocar para o inverno, tendo ainda que dar uma parte para os gafanhotos.

Por anos essa era a rotina.
Um belo dia, Flik, uma formiguinha criativa e inteligente, por acidente, prejudica essa coleta.

Quando os gafanhotos vêm buscar a comida, ficam enfurecidos e ameaçam matar as formigas se elas não juntarem mais mantimentos.

Então Flik sai em uma aventura à procura de heróis que ajudem sua colônia a enfrentar esses gafanhotos.

Ele encontra um grupo de insetos circenses(*) que, graças a um mal entendido, aceita dar uma força para as formigas.

No filme, a partir desse encontro a aventura fica cada vez mais divertida.

Se você ainda não assistiu VIDA DE INSETO eu recomendo.



Nota: (*)não tem nada a ver com os movimentos estudantis como, por exemplo, o dos “caras pintadas” de 1992.



imagem: site do Yahoo Brasil Cinema

domingo, 25 de maio de 2008

Perdão

Muito se fala sobre o “acaso”. Teorias infinitas, poesias, versos e até canções tentam explicar a estranha e deliciosa coincidência que a vida nos prega. Desde ontem uma “coisinha estranha” está brotando em mim gritando para ser postada aqui - não se assustem não é vírus.
Acordei, entrei na net e, a partir de um comentário, fui ao blog de uma amiga e, “cataplam”, lá estava um texto falando exatamente o que eu estava sentindo.
Se quiser, dê uma passada lá (www.compartilhandoasletras.blogspot.com), vale a pena lê-lo na íntegra.
Mas aqui vou me ater apenas em alguns trechos, como esse:

“Existe um versículo na Bíblia que diz: O que quereis que os
homens vos façam, fazei vós a eles também
. Tenho tomado por
base para a minha vida esse versículo. Se magoei alguém, vou a
esse alguém peço desculpas, me explico e tento consertar. Eu
gostaria que agissem assim comigo também, por isso faço a
minha parte. Se ofendi com palavras, procuro me desculpar,
explicar, fazer a pessoa entender , que foi um momento
impensado, somos imperfeitos....”


Lendo, várias frases me vieram á mente, algumas baseadas em versículos bíblicos que, de tão conhecidos, até viraram “ditos populares” como: Atire a primeira pedra quem não errou; Se baterem na sua face, ofereça a outra; e por ai vai.
Mas, o que realmente importa é a prática do perdão.
E perdão envolve reconhecimento do erro.
Primeiro de quem magoou e se dispõe a voltar atrás e consertar.
Segundo, e aí vem a pior parte, daquele que tem nas mãos a “sentença”.
Deste, você “deveria” ser absorvido totalmente.
Mas, normalmente, se diz que perdoa e, quantas vezes, arquivamos a ficha do “suposto absorvido” para futuras punições.
Uma palavra, uma recordação, um gesto, uma pequenina vingança.
Perdoar é jogar no mar do esquecimento. Essa é a promessa de Deus para nossas vidas e a recomendação de Cristo.
Mas, quantos de nós faz isso?
Por isso, prefiro estar na primeira condição, não tenho nenhum problema em reconhecer meus erros e me desculpar (mesmo que demore um pouquinho).
E se você pensou “ta se achando”, “falou a humilde”, pode deletar seu cavalinho da mente.
Sou uma “pessoinha” complicada e estou sempre “pisando na bola”, isso me faz praticar muito o pedir desculpas.
Relaxou, né? kkkk
Continuemos.

“Mas lidar com pessoas é terrivelmente complicado. Enquanto
você está jogando um balde de água fria. O outro está de várias
maneiras te espetando, te provocando, e ainda se sente tão
injustiçado, tão ferido, tão magoado. Mas ele(a), se colocou
numa posição de: não perdôo, não esqueço, não falo mais,
NÃO!!!”


Posso admitir aqui? Vivo tendo esses “pitis”. Fico de bico e deleto todo mundo. Daí, paro, penso, perdôo e volto atrás.
Lembrei de outro versículo: enganoso é o coração do homem, quem o conhecerá?
A vida sempre nos coloca em uma das duas posições.
Então meus queridos vamos praticar.
Que tal me perdoarem por fazer vocês lerem tudo isso logo hoje?

beijinhos


trechos de textos de: Sonia Regly

sábado, 24 de maio de 2008

Soneto do Orfeu -

São demais os perigos dessa vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida

E se ao luar, que atua desvairado
Vem unir-se uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher

Uma mulher que é feita de música
Luar e sentimento, e que a vida
Não quer, de tão perfeita

Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento,
Tão cheia de pudor que vive nua.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

O quê dizer da morte?

Hoje assisti a um novo filme: P.S. Eu te amo.
Enredo simples mas comovente.
Interagi com a mocinha. Algumas vezes fui ela.
No final, tanto ela quanto eu, fomos brindadas com novas esperanças.
Gostei!
Mas, quem espera muitas surpresas ou cenas maravilhosas é melhor alugar outra coisa.
Esse filme tem muitas sutilezas, no meu caso, me fez pensar na morte e seu efeito.
É difícil lidar com a perda, mais difícil ainda é continuar vivendo
sem o quê se tinha.
Mas posso dizer com conhecimento de causa: conseguimos.
Depois de algum tempo, uma vaga lembrança, uma palavra ou um filme
nos traz a mente as lembranças. Só que as emoções nos vêm adocicadas pelos dias e pelos anos.
Assim são os amores ou a morte.
Do primeiro nos resta a esperança de novos encontros, novas surpresas.
Do segundo uma certeza: ela vem.
Para cada um vem fantasiada de uma forma, mas vem.
Sempre nos surpreende.
E que bom que seja assim pois já perdemos muito tempo tendo medo dela.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Canção na Plenitude - Lya Luft

Não tenho mais os olhos de menina
nem corpo adolescente, e a pele
translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura
agrandada pelos anos e o peso dos fardos
bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)

O que te posso dar é mais que tudo
o que perdi: dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir
quando em outros tempos choraria,
busca te agradar
quando antigamente quereria
apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza
e juventude agora: esses dourados anos
me ensinaram a amar melhor, com mais paciência
e não menos ardor, a entender-te
se precisas, a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar: um mar antigo e confiável
cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.


O texto acima foi extraído do livro "Secreta Mirada", Editora Mandarim - São Paulo, 1997, pág. 151.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Ninguém merece

Você já parou para pensar no que fazer quando a morte bater a sua porta?
Pois é, ela sempre chega de surpresa.
Se você achou que ela só ronda a casa do vizinho e não se preparou para essas despesas extras ta “na roça” – ditado lá do Mato Grosso.
Para 90% da população, nessas horas é um corre-corre pra pedir dinheiro emprestado, pede-se socorro aos amigos. parentes e até os vizinhos entram na vaquinha.
Isso resolvido, grana na mão, sai-se em busca do caixão mais barato, corta flores, candelabros, velas, se possível, ficam algumas rosas para enfeitar o ente querido.
Ainda bem que morto não reclama.
Conforme o diretor-geral da Câmara, Sérgio Sampaio de Almeida, declarou a Folha de SP, quando a família não tem condições: “Tem vários casos. Como faz? Fica o corpo jogado? Quem tem responsabilidade de pegar, levar, transportar?”
No nosso caso, para enterrar o dito cujo você pega no telefone começa a ligar pra todo mundo que conhece para saber quem vai ceder vaga no cemitério.
Quem tira quem, quem tem espaço pra quem, etc.
Mas, não se preocupe, você ainda tem a opção das vagas oferecidas pela prefeitura.
No mato seu morto não fica.
Complicado, né?
Pois bem, pensando nesses transtornos a Câmara dos Deputados tirou da casaca a solução para esse problema – problema seu, porque o deles está quase no fim.
Li no jornal Folha de São Paulo de hoje, 06/05/08, que a Mesa da Câmara apresentou projeto que institui mais uma verba para os deputados federais, o auxílio-funeral. Assinado pelo presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP) – olha o PT ai minha gente -, o projeto coloca sob responsabilidade da Câmara a realização de toda a cerimônia fúnebre, incluindo a compra do caixão, ou destina cota de R$ 16.500 para ressarcimento à família dos gastos efetuados. E tem mais, o texto ainda possibilita bancar as despesas funerais até mesmo de ex-deputados. Que maravilha!
Claro que esse projeto já foi aprovado por unanimidade pela Mesa da Câmara. Ou seria por todos os futuros defuntos? Para entrar em vigor, o projeto tem que ser aprovado no plenário da Casa.
Segundo o senhor Sampaio de Almeida, esse projeto será discutido “abertamente” pelo plenário da Casa. Que beleza!
Ainda segundo o jornal, além de 15 salários anuais de R$ 16.500, os deputados recebem mensalmente auxílio-moradia (R$ 3.000), cota postal e telefônica (R$ 4.200), verba para contratação de assessores (R$ 60 mil), verba para manutenção de escritórios nos Estados (R$ 15 mil) a cota para aquisição de passagens aéreas (varia de R$ 4.400 a R$ 17,6 mil).
Viu só, quem manda você não nascer na Europa?
Pior ainda, quem manda nascer pobre, assalariado, não fazer parte de nenhum movimento de Sem Terra, Sem teto ou Sem Comida, e ainda por cima VOTAR.
Quer uma opção?
Pega ai um caderninho e anota o nome desses políticos brilhantes, faça um adesivo e mande colar em todos os lugares, confeccione faixas e bandeiras e mexa-se.
Se não der certo na eleição de 2008, não desista, insista, vamos gravar nas nossas mentes e semear as sementes para que as futuras gerações aprendam com nossos erros.
E comece a torcer desde já para que eles não façam a “Emenda do Filho Pródigo”, ou seja, antecipem a grana para que o MORTO goze em vida do tal beneficio.
texto: Etelvina de Oliveira