domingo, 30 de agosto de 2009

Sem medo de amar


Os poetas que me perdoem
Mas quero o fim dos amores platônicos
Que arrancam da alma os versos
E do coração lágrimas de sangue

Mesmo que calem os sofredores
Que não haja mais inspiração nem poesias
Que apaguem as estrelas
Que sumam com a Lua

Chega de palavras! Cesse o lirismo.
Deixe que o amor floresça!
Ouça canções melosas
Assista cenas de beijos na TV
Faça planos, sonhe, perca o chão

Admita a si mesmo que AMA
Não escreva! Não fuja! Assuma!
Corra atrás e fale:
EU TE AMO

E que seus olhos e atos confirmem
sem medo de ser feliz ou de sofrer
mas sendo inteiro, verdadeiro
e real

Etelvina de Oliveira
30/08/09

sábado, 29 de agosto de 2009

Só você


Eu queria saber o que dizer
Escolher as palavras certas
Queria a frase perfeita
Mas não sei os versos ou rimas
Não sou poeta

Só sei que adoro seu riso, seu siso
Estar contigo me faz
abrir as cortinas da vida
e aprender a amar

Etelvina de Oliveira
29/08/09

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Brasil = Brasilia amarela. Que Pum é esse?



por Etelvina de Oliveira

O primeiro carro do meu cunhado foi uma Brasília amarela. Velha de fazer dó, mas um coração de mãe.
Esperamos ele tomar posse do veículo, pegar pratica no volante e, aos poucos, demos um jeitinho de nos incluirmos no rol de convidados para passeios. Primeiro, meu marido e eu acomodávamos tranqüilamente entre meus dois sobrinhos. Depois, com mais confiança e liberdade, fomos incluindo outras pessoas nos nossos passeios. Um primo do meu marido, meu irmão e sua noiva e até um casal de amigos. Todos amontoados no banco de trás. Nossos fins de semana tornaram-se cheios de emoção. Quando o carro quebrava ninguém reclamava de empurrar, afinal todos compartilhavam do mesmo “pão”.
Claro que as leis de trânsito condenavam essa prática, mas quem ligava para isso?
Corríamos riscos. Uma vez, no aperto geral dos passageiros, esse primo do meu marido não conteve os gazes e quase matou todo mundo com o cheiro. Zangado, meu cunhado soltou vários palavrões e gritou: “Quem soltou um “pum” aí?”
Todo mundo riu, mas ninguém assumiu a culpa. Para não piorar as coisas, os que sabiam quem tinha sido ficou caladinho, quem desconfiava não arriscou nenhum palpíte e a viagem prosseguiu.
Pior que isso não aconteceu só uma vez, só que a partir daí ninguém mais ligava e meu cunhado se fazia de sego e só prestava a atenção no caminho. Com o tempo a Brasília amarela foi ficando tão acabada e cheia de multas que passou a ser um risco, não só para nós, passageiros, como para os outros veículos. Muito embora, naquela época, nenhum de nós ligasse muito para os outros à nossa volta. Conclusão: foi o fim da Brasília amarela.
Só então cada um foi obrigado a tomar um rumo e comprar seu próprio carro.
Talvez seja isso que precise acontecer lá no planalto, em Brasília. Terra de ninguém. País sem Leis. Casa dos arquivamentos. Território do “PUM” sem dono.
Mas que fede, isso fede.


Bom dia!







quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Amar não tem idade.

Quem não sonha com o amor eterno? Alma gêmea? Tampa da panela? Feitos um para o outro? Sei lá, dê o nome que você quiser.
Mas, confesse, você nunca pensou em um amor tipo "envenhecer de mãos dadas"? Morrer juntinhos? Estar junto pra sempre?
Muitos dizem ser impossível. Lenda? Folclóre?
Não sei. Mas, como todos os sonhos, esse amor é lindo e perfeito.
Outro dia, li no blog "Caldeirão da Bruxa" o meu sonho retratado em belissímas palavras. Não resisti e pedi para publicar um pequeno trecho, espero que vocês gostem. Esse é só um pedacinho do "rabo" da Pipa que sobrevoa meu coração.
Se você quiser conhecer os personagens dessa bela história visite o blog (http://caldeirao-da-bruxa.blogspot.com/).
Vale a pena, aquela bruxinha escreve muitoooooooooooo!!

beijos


"... O que eu gostaria?

Agora, quando penso nisso e penso nele ali sentado tomando sol... O que eu gostaria, de verdade, é um grande e arrebatador amor. Daqueles que me fizesse sentir o rosto ruborizar, a mão gelar, me fizesse gaguejar. Daqueles que me fizesse esquecer todos os horários e só me lembrasse que todos os meus horários são dele, ou meus... Daqueles que me fizesse lembrar o que é ser adolescente na expectativa do primeiro beijo. Daqueles que me fizesse jovem quando o beijo se transformasse em grande desejo. Daqueles que me fizesse na pessoa madura e desejasse passar o resto da minha vida a seu lado, mesmo que o resto da minha vida fosse poucos dias.

Na verdade, uma grande paixão.

Aquela paixão que nos faz sorrir de tudo e para tudo. Que nos faz sumir as rugas do rosto. Que nos faz sentir o ar como se fosse um elixir da juventude.

Certo... Chamariam isso de caduquice. ..."


BOM DIAAAAAA!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Tempo de calar


Nos dias de silêncio
as emoções se acomodam
e os pensamentos amadurecem


Nessas horas
nossa alma se recolhe
e busca do Divino a inspiração


Tempo de calar
é na verdade
tempo de ouvir o silêncio


Etelvina de Oliveira
Publicado no Recanto das Letras em 10/10/2008

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Meu barco.





Estou a deriva.




Meu barco

sem rumo

procura em vão

os faróis

dos teus olhos.


Etelvina de Oliveira
Publicado no recanto das Letras em 13/10/2008

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

TE AMO


Mais uma vez o sol surgiu no horizonte
Eu sei que o mesmo sol cobre teu dia
Talvez mais quente, talvez mais límpido

O dia nasceu para nós dois.

Teus olhos se abrem para novas expectativas
Tua mão desliza no espaço vazio ao teu lado
Nos teus lábios surge um sorriso, mesmo sem querer

Pensas em mim?

Eu sim!

Quando deito, quando sonho, quando acordo
"E nem sonhava te amar desse jeito!"
Lembra dessa frase?
Pois é, você está longe
mas acordo te sentindo ao meu lado.

Etelvina de Oliveira
Publicado no Recanto das Letras em 03/12/2008

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Gosto quando me falas de ti...

Gosto quando me falas de ti...
e vou te percorrendo
e vou descortinando a tua vida
na paisagem sem nuvens,
cenário de meus desejos tranqüilos.

Gosto quando me falas de ti...
e então percebo
que antes mesmo de chegar, me adivinhavas,
que ninguém te tocou, senão o vento
que não deixa vestígios, e se vai
desfeito em carícias vãs...

Gosto quando me falas de ti...
quando aos poucos a luz
vasculha todos os cantos de sombra,
e eu só te encontro
e te reencontro em teus lábios, apenas pintados,
maduros,
mas nunca mordidos antes da minha audácia.

Gosto quando me falas de ti...
e muito mais adiantas
em teus olhos descampados, sem emboscadas,
e acenas a tua alma, sem dobras,
como um lençol distendido,
e descortino o teu destino, como um caminho certo,
cuja primeira curva
foi o nosso encontro.

Gosto quando me falas de ti...
porque percebo que te desnudas
como uma criança, sem maldade,
e que eu cheguei justamente para acordar tua vida
que se desenrola inútil como um novelo
que nos cai no chão...



( Poema de JG de Araujo Jorge do
livro "Quatro Damas" 1a ed. 1965 )



JOSÉ GUILHERME DE ARAUJO JORGE

Nasceu em 20 de maio de 1914, na Vila de Tarauacá, Estado do Acre. Filho de Salvador Augusto de Araújo Jorge e Zilda Tinoco de Araujo Jorge. Descendente, pelo lado paterno de tradicional família alagoana, os Araujo Jorge. Sobrinho do embaixador Artur Guimarães de Araujo Jorge, ( autor de inúmeras obras sobre Filosofia, História e Diplomacia), sobrinho neto de Adriano de Araujo Jorge , médico, escritor, grande orador, que foi Presidente perpétuo da Academia Amazonense de Letras, e do Prof. Afrânio de Araujo Jorge, fundador do Ginásio Alagoano, de Maceió. Descende pelo lado materno dos Tinocos, dos Caldas e dos Gonçalves, de Campos, Macaé, e S. Fidélis, Estado do Rio. Passou sua infância no Acre, em Rio Branco, onde fez o curso primário no Grupo Escolar, 7 de Setembro. No Rio , realizou o curso secundário nos Colégios Anglo-Americano e Pedro II Colaborou desde menino na imprensa estudantis. Foi fundador e presidente da Academia de Letras do Internato Pedro II, no velho casarão de S.Cristovão, consumido pelas chamas muitos anos depois. Data dessa época, ainda ginasiano, sua primeira colaboração na imprensa adulta: em 1931 viu publicado o seu poema "Ri Palhaço, Ri" no "Correio da Manhã", depois transcrito no "Almanaque Bertand" de 1932.Entretanto, este como outros trabalhos desse tempo, não foram incluídos em seus livros. Colaborou também no jornal " A Nação" ; nas revistas: " Carioca", "Vamos Ler", etc. Formou-se pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil.Em 1932, No Externato Colégio Pedro II, em memorável certame, foi escolhido o " Príncipe dos Poetas", sendo saudado na festa por Coelho Neto, "Príncipe dos prosadores brasileiros" recebendo das mãos da poetisa Ana Amélia, Presidente da Casa do Estudante, como prêmio e homenagem, um livro ofertado por Adalberto Oliveira, então " Príncipe da Poesia Brasileira".Na Faculdade de Direito foi o fundador e o 1º Presidente da Academia de Letras, que teve como patrono Afrânio Peixoto, então professor de Medicina Legal.Foi locutor e redator de programas radiofônicos, atuando nas Rádios Nacional, Cruzeiro do Sul, Tupi e Eldorado. Em 1965, era professor de História e Literatura, do Colégio Pedro II.Orador oficial de entidades universitárias, (do CACO da União Democrática Estudantil, precursora da UNE, da Associação Universitária, etc), ainda estudante, venceu concursos de oratória. Em Coimbra recebeu no título de " estudante honorário" e fez Curso de Extensão Cultural na Universidade de Berlim. Com irrefreável vocação política, foi candidato a vários cargos públicos. Elegeu-se Deputado Federal em 1970 pela Guanabara, reelegendo-se já para o seu terceiro mandato em 1978 . Ocupou a vice-liderança do MDB e a presidência da Comissão de Comunicação na Câmara dos Deputados. Politicamente participou sempre das lutas anti-fascistas, como democrata e socialista. Lutou, ainda estudante, contra o "Estado Novo". Foi preso e perseguido várias vezes durante esse período. Deixou de ser orador de sua turma por estar detido na Vila Militar, sob as ordens do Gal. Newton Cavalcanti, durante todo "estado de guerra" de 1937. Foi conhecido como o Poeta do Povo e da Mocidade, pela sua mensagem social e política e por sua obra lírica, impregnada de romantismo moderno, mas às vezes, dramático. Foi um dos poetas mais lidos, e talvez por isto mesmo, o mais combatido do Brasil. Faleceu em 27 de Janeiro de 1987.

sábado, 15 de agosto de 2009

Jardim da Vida.


Não basta apenas

Semear

Regar

E cuidar da planta


Há de se adubar

E enfrentar as

tempestades e

as pragas


Assim é a amizade, o amor e a vida.


Etelvina de Oliveira
Publicado no Recanto das Letras em 29/3/09

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Revolta das Letras.

Acho
que as palavras fizeram as malas
e fugiram com a emoção.
Desconfio
que elas pegaram o trem do tempo
e foram ao encontro da inspiração.
Lá pelas bandas da saudade.
Conheces?
Já estivestes por lá?
Dizem
que na terra da saudade
se escondem dois monstros: delete e excluir.
Dizem também,
que eles devoram poemas, cartas, contos e recados.
Na verdade, querem engolir quem os escrever.
Não sei se acredito.
Por via das dúvidas,
volto depois para ver se eles apagaram esse texto.

Etelvina de Oliveira
Publicado no Recanto das Letras em 11/08/09
Código do texto: T1748577

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Doce amor.



Olhe, a maciera está em flor!

Há de se esperar o tempo certo
para dela se comer o fruto

Para que não se azede a vida
há de se esperar que a maça se torne em amor


Etelvina de Oliveira

imagem: site do google
Árvore Florida, de Sou Kit Gom
Tela doada ao Museu de Arte do Palarmento de São Paulo

domingo, 9 de agosto de 2009

Pai Herói.

Hoje acordei animada para postar um vídeo em homenagem ao DIA DOS PAIS. De imediato me veio á mente a música "Pai", de Fábio Junior, antiga, mas linda. Procurei, achei e postei.
Depois, enquanto pensava em algo para escrever, o inevitável aconteceu: bateu uma saudade imensa do meu Pai.
Lembrei do sorriso, do jeito bonachão e do tamanho imenso dele. Como meu pai era grande, aos meus olhos de criança. Eu o via como um super herói mesmo. Pena tê-lo perdido tão cedo!
Mas as lembranças daqueles eternos 11 anos estão tatuados no meu coração. O mesmo coração que teve de aceitar uma Pãe, batalhadora e amorosa, presente na minha vida até hoje. O exemplo da minha mãe me serviu de escola para que eu seja o que sou para os meus filhos.
Então, não posso deixar de abrir um espaço nessa homenagem para cumprimentar, não só aos PAPAIS, mas também, às mamães que são PÃES voluntaria ou involuntariamente.

FELIZ DIA DOS PAIS

sábado, 8 de agosto de 2009

Amigos.



Tenho amigos
que andam comigo
me visitam
me abraçam

Tenho amigos
que sabem mais de mim
do que minha mãe
Eles falam de si , e me ouvem

Tenho amigos
que compartilham comigo
momentos "informáticamente" possíveis
estão longe e perto

Tenho amigos
que são formais
só me mandam recados,
no orkut, e-mail, ou no blog.


Tenho amigos como VOCÊ
ora REAIS e ora VIRTUAIS

Unidos e separados
pela INTERNET do CORAÇÃO

Etelvina de Oliveira
Publicado no Recanto das Letras em 15/08/08
Código do texto: T1129434

*

Amigos reais e virtuais.



Tenho amigos
que andam comigo
me visitam
me abraçam

Tenho amigos
que sabem mais de mim
do que minha mãe
Eles falam de si , e me ouvem

Tenho amigos
que compartilham comigo
momentos "informáticamente" possíveis
estão longe e perto

Tenho amigos
que são formais
só me mandam recados,
no orkut, e-mail, ou no blog.


Tenho amigos como VOCÊ
ora REAIS e ora VIRTUAIS

Unidos e separados
pela INTERNET do CORAÇÃO

Etelvina de Oliveira
Publicado no Recanto das Letras em 15/08/08
Código do texto: T1129434

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Aconchego.


Quero deitar contigo
sob o mesmo céu de estrelas
e escrever teu nome na areia

Quero deitar contigo
sob a luz da janela, então vazia
e adormecer no teu peito

Quero deitar contigo
no chão do barco a vela
que desliza no horizonte dos sonhos

Quero só, e tão somente, deitar contigo
apagar da tela as frases e os versos
e pintar no quadro os nossos sorrisos

Etelvina de Oliveira
Publicado no Recanto das Letras em 10/11/2008
Código do texto: T1275811

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Ode para o Futuro.

por Jorge de Sena

Falareis de nós como de um sonho.
Crepúsculo dourado. Frases calmas.
Gestos vagarosos. Música suave.
Pensamento arguto. Subtis sorrisos.
Paisagens deslizando na distância.
Éramos livres. Falávamos, sabíamos,
e amávamos serena e docemente.

Uma angústia delida, melancólica,
sobre ela sonhareis.

E as tempestades, as desordens, gritos,
violência, escárnio, confusão odienta,
primaveras morrendo ignoradas
nas encostas vizinhas, as prisões,
as mortes, o amor vendido,
as lágrimas e as lutas,
o desespero da vida que nos roubam
- apenas uma angústia melancólica,
sobre a qual sonhareis a idade de oiro.

E, em segredo, saudosos, enlevados,
falareis de nós - de nós! - como de um sonho.


de Jorge de Sena, in 'Pedra Filosofal'
(Ver homenagem e versão dessa poesia no blog: http://poemasrosaxa.blogspot.com/)


Lisboa - 1919 - 1978


Escritor português, natural de Lisboa e naturalizado brasileiro, em 1963. Estudou em Lisboa, no colégio Vasco da Gama e no liceu Luís de Camões, onde, segundo o próprio, «andava já fazendo versos». Em 1937, entrou para a Escola Naval. A 1 de Outubro do mesmo ano, partiu no navio-escola Sagres, em viagem de instrução, que decorreu até Fevereiro do ano seguinte, após o que foi demitido da Armada. Entrou então para a Faculdade de Ciências de Lisboa. Num jornal da faculdade, Movimento, publicou o poema Nevoeiro. Estabeleceu contacto com a revista Presença, através de Adolfo Casais Monteiro, a propósito de um poema de Álvaro de Campos. Desse contacto veio a resultar a ligação aos Cadernos de Poesia, onde Sena publicou, em 1940, os sonetos Mastros e Ciclo, e cuja direcção integrou durante algum tempo com Ruy Cinatti, José Blanc de Portugal e José Augusto França. Formou-se na Faculdade de Engenharia do Porto, trabalhando na Junta Autónoma de Estradas até 1959, data em que se exilou voluntariamente no Brasil.
A partir daí, desenvolveu uma actividade académica intensa nas áreas da literatura e cultura portuguesas. Foi catedrático contratado de Teoria da Literatura na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis (Estado de São Paulo). Em 1961, transitou para a Universidade de Araraquara, igualmente em São Paulo, como catedrático contratado de Literatura Portuguesa. Adoptou a nacionalidade brasileira em 1963. Em 1965 seguiu, também como professor, para a Universidade do Wisconsin (EUA) e, cinco anos mais tarde, para a Universidade da Califórnia, onde veio a chefiar os departamentos de Espanhol e Português e o de Literatura Comparada, cargos que manteve até 1978. Recebeu o Prémio Internacional de Poesia Etna-Taormina pelo conjunto da sua obra poética e foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique por serviços prestados à comunidade portuguesa. Recebeu, postumamente, a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago. Em 1980, foi inaugurado o Jorge de Sena Center for Portuguese Studies, na Universidade de Santa Barbara.
Para além da sua actividade como escritor e professor, Jorge de Sena empenhou-se na divulgação de autores e correntes estrangeiras (sobretudo de origem anglo-saxónica) através de inúmeros estudos, conferências e traduções. Em 1941, fez uma conferência sobre Rimbaud intitulada «O Dogma da Trindade Poética» e, no ano seguinte, iniciou a sua actividade crítica com um artigo sobre o escritor cabo-verdiano Jorge Barbosa. Em 1944, publicou um texto de apresentação do surrealismo, «Poesia Sobrerrealista», primeira divulgação deste movimento em língua portuguesa, traduzindo ainda textos de André Breton, Paul Éluard, Benjamin Péret e Georges Hugnet. Outros autores que ajudou a divulgar foram T.S. Eliot, Cavafy, Auden, Hemingway, Bertold Brecht e William Faulkner. Colaborou regularmente, como crítico, no semanário Mundo-Literário (1946-48) e numa série de outras publicações ligadas à literatura, em Portugal e no estrangeiro.
Como ensaísta, são fulcrais os seus estudos da vida e obra de Camões e de Fernando Pessoa. Em 1948, proferiu a conferência «A Poesia de Camões, Ensaio da Revelação da Dialéctica Camoniana», no Clube Fenianos Portuenses, com que inaugurou a série de trabalhos que viria a realizar sobre o autor, procurando linhas de análise inovadoras em relação ao academismo dos estudos camonianos portugueses. Em Agosto de 1959, participou no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros na Universidade da Baía, com o estudo «O Poeta é um Fingidor»>. Defendeu, como tese de doutoramento em Letras e de livre-docência em Literatura Portuguesa, «Os Sonetos de Camões e o Soneto Quinhentista Peninsular», em 1964. Em 1970 publicou A Estrutura de Os Lusíadas e Outros Estudos Camonianos e de Poesia Peninsular do Século XVI. Efectuou uma série de viagens pela Europa, América e África, relacionadas com as comemorações do 4º centenário de publicação de Os Lusíadas, e organizou as edições camonianas, promovidas pela Imprensa Nacional, das Rimas e de Os Lusíadas, comentados por Manuel de Faria e Sousa. Em 1973, publicou o poema «Camões dirige-se aos seus contemporâneos»>. A literatura portuguesa da época clássica, aliás, mereceu-lhe particular atenção, o que se reflecte na sua própria obra poética, nas suas múltiplas intertextualidades.
Jorge de Sena foi poeta, dramaturgo, ficcionista e historiador da cultura. Não se filiando em nenhuma escola literária, foi influenciado por várias correntes (nomeadamente pelo surrealismo, sobretudo em aspectos técnicos), numa tentativa de superar as tendências da época que passou por várias formas de experimentalismo. No entanto, a estes aspectos modernos da sua poesia aliou recursos da tradição medieval e renascentista, tornando a sua obra, simultaneamente, clássica e revolucionária. Disso é exemplo a utilização que, por vezes, fez do soneto: a par da forma clássica deste tipo de poema, surge um experimentalismo sintáctico e morfológico que subverte as fronteiras entre classicismo e modernidade, superando-as. Toda a sua obra, aliás, se orienta por esta tentativa de superação: superação dos antagonismos entre escolas literárias (realismo social, surrealismo, experimentalismo), de certas oposições humanas com raízes na cultura ocidental, como as de corpo/alma, ciência/poesia, bem/mal, Deus/homem. Esta superação tem raízes filosóficas na dialéctica hegeliana e no marxismo, reconhecidas pelo próprio escritor. Para Jorge de Sena, a poesia era, ela mesma, uma forma de testemunhar e transformar o mundo; da relação estabelecida entre o sujeito poético e o objecto que ele tomava como matéria da sua poesia resultava uma outra entidade — o próprio poema, objecto estético constituído por meio da linguagem. A poesia era, assim, uma forma de intervenção, embora entendida de forma diversa do neo-realismo. Mesmo em Coroa da Terra, que tem afinidades temáticas com este movimento, encontram-se técnicas surrealistas que dele se afastam.
Num lirismo depurado, Jorge de Sena levou muitas vezes a cabo uma crítica mordaz e irónica da realidade, aqui e ali de forma provocadora ou dolorosa. É de destacar a sua visão irónica de certos mitos da tradição cultural portuguesa, satirizando frequentemente aspectos provincianos ou saudosistas do entendimento do país e do seu povo no mundo (veja-se, por exemplo, a peça O Indesejado, sobre D. António, prior do Crato, na sua ligação com o sebastianismo nacional). O autor continua uma linha de lucidez satírica que se encontra já em escritores portugueses de épocas anteriores.
Na poesia, Jorge de Sena estreou-se com Perseguição (1941). Publicou ainda Coroa da Terra (1947), Pedra Filosofal (1950), As Evidências (1955), Fidelidade (1958), Metamorfoses (1963), Arte de Música (1968), Peregrinatio ad Loca Infecta (1969), Exorcismos (1972), Conheço o Sal e Outros Poemas (1974), Poesia I (1977), Poesia II (1978) e Poesia III (1978).
Como dramaturgo, publicou, em 1951, O Indesejado, e a peça em um acto Amparo de Mãe. Em 1952 saiu Ulisseia Adúltera, em 1969, O Banquete de Dionísos, e, em 1971, Epimeteu ou o Homem Que Pensava Depois.
A sua obra de ensaio, fundamental nos estudos literários do século XX português, inclui a recolha Da Poesia Portuguesa (1959), O Poeta é um Fingidor (1961), O Reino da Estupidez (1961), Uma Canção de Camões 81966), Os Sonetos de Camões e o Soneto Quinhentista Peninsular (1969), A Estrutura de Os Lusíadas e Outros Estudos Camonianos e de Poesia Peninsular do Século XVI (1970), Maquiavel e Outros Estudos (1973), Dialécticas Aplicadas da Literatura (1978) e Fernando Pessoa & Cia. Heterónima (1982), entre outros.
A obra ficcional de Jorge de Sena foi produzida sobretudo entre 1959 e 1965, embora a sua edição seja por vezes posterior. Escreveu Andanças do Demónio (1960, contos), Novas Andanças do Demónio (1966), Os Grão-Capitães (1976), Sinais de Fogo (romance publicado postumamente em 1979) e O Físico Prodigioso (1977).
Postumamente, foram publicadas várias antologias e ainda Visão Perpétua (1982, poesias inéditas), Génesis (1983, que inclui dois contos inéditos de 1937-38) e Dedicácias (1999, poemas satíricos e desenhos inéditos).
Embora dividida por diversos géneros, a obra de Jorge de Sena constitui uma teia de relações em que se cruzam, em múltiplas abordagens, temas recorrentes, que definem a sua personalidade literária e crítica. É um dos grandes vultos da poesia e do ensaísmo português da segunda metade do século XX

Ode ao Amor virtual.


Falamos de nós como de quimeras.
Contamos casos. Lembramos fatos.
Encurtamos o tempo e o espaço.
Envolvidos num amor de eras.
Desejos. Sorrisos. Esperas.


Paira sobre nós uma angústia melancólica
de buscas e renuncias.


Primaveras morrendo ignoradas.
Alegrias, conquistas, as mortes,
o amor perdido, as lágrimas, as lutas,
o desespero da vida se esvaindo.
Outonos. Invernos. A despedida.


E, em breve, em segredo, saudosos,
falaremos de nós - de nós! - como de quimeras.



Obs: homenagem ao poeta português Jorge de Sena (releitura do seu poema "Ode para o Futuro", com trechos do mesmo).



Etelvina de Oliveira
Publicado no Recanto das Letras em 16/11/2008
Código do texto: T1286102

sábado, 1 de agosto de 2009

Nosso amor.



Sob a luz do luar
somos crianças travessas
que surgem na janela

Nossos gestos e sons
revelam segredos
que tingem de cores a vida

Como contê-las?

Soltem os fogos
estourem os balões
façamos festa

Ai de nós!
Que provamos de tão
doce veneno


Etelvina de Oliveira
Publicado no Recanto das Letras em 28/10/08
Código do texto: T1250828

imagem: www.google.com.br